A sua maior obra "O mundo como vontade e representação, foi publicada em 1818 e nao causou muito impacto no mundo acadêmico da época que vivia intoxicada pelas ideias de Hegel. Em 1844 Schopenhauer, ja conhecido pelo mundo acadêmico, publica a segunda edição dessa obra. Schpenhauer é o tipico caso de autor que só ficou famoso após sua morte.
A filosofia de Schopenhauer é fundamentada em uma filosofia da vontade que é o
centro, a essência e a coisa-em-si do mundo. Todas as coisas são formas da objetivação da
vontade, o princípio fundamental da natureza no perpétuo movimento de vida e de morte. A
vontade é cega, arbitrária, tirânica e brutal, não possuindo nem um Deus que a controle,
transformando o mundo em algo cruel, sendo responsável por todo o sofrimento do globo, que
para Schopenhauer, são prévias da morte. Portanto, se a essência da existência é dor, a vida é
então uma queda perpétua em direção a morte.
Para falar da concepção e o conceito de morte em Schopenhauer é preciso primeiro
esclarecer o que é Vida para ele. A existência do homem é vazia; e o homem se torna consciente
de sua existência após um estado de não-existência como um perpétuo retorno, o chamado
pêndulo metafísico. O tempo é então algo ideal à natureza humana, pois a idealização dele é a
chave para qualquer sistema metafísico, de certo que, de cada evento que vivemos, é por um
momento apenas que podemos dizer que este é; após isso devemos dizer para sempre que este
foi; essa ilusão de que devemos aproveitar o dia – a idéia da frase “carpe diem” – logo se desfaz
quando refletimos que aquilo que passará logo, jamais poderá merecer um esforço sério.
Schopenhauer parte então do pensamento de Platão sobre o Éros: desejamos aquilo que não
temos e quando temos, não desejamos mais; assim, a existência humana é marcada por um
desassossego, sempre vivendo o presente e buscando um novo que supere o atual.
Em um
mundo onde nada é estável, a felicidade é inconcebível, onde nenhum homem é feliz e a vida é
uma constante mentira por dar a ele a ilusão de felicidade, quando na verdade não passa de ser
ausência da dor – que inclusive não dura por muito tempo. Por conseguinte, conclui-se para o
filósofo que a vida humana é um erro e a existência em si não possui valor algum. Para ele, a
vida só tem sentido se olhada de longe, ou seja, superficialmente, pois se nos aprofundarmos
em conhecê-la, veremos que esta é desprovida de sentido e beleza. A vida, é dor; quem desejsofre; e quem vive, deseja.
Mais do que participante da vida – e até mesmo motivo dela – a dor
é necessária; para o filósofo, se a dor não existisse o homem morreria de tédio, pois conseguiria
as coisas com muita facilidade e mais, ela nos faz sentir as coisas erradas da vida, enquanto a
felicidade nos deixam acomodados. A vida é, portanto, matéria; a matéria é estruturada de
vontade; a vontade é carregada de necessidades e ilusões.
Então, para quê e o que é a morte em Schopenhauer? É famosa a frase do filósofo que
afirma a morte como musa da filosofia e ainda acrescenta a fala de Sócrates reconhecendo a
filosofia como uma preparação para a morte. A morte é então, uma cura para os males da vida;
se a vida é um erro, a morte é a solução.
Para ele, a individualidade humana não deveria existir
e o verdadeiro fim da vida é nos livrar-mos dela, todavia, a morte é uma necessidade pois
aniquila a individualidade do homem realizando a principal condição: deixar de ser o que é; e
se a vida é uma “amostra grátis do inferno”, por que preferimos o ser do que o não-ser?
Schopenhauer ousa ainda mais dizendo que se bater nos túmulos e perguntar aos mortos se
querem ressuscitar, recusarão sacudindo a cabeça. Ademais, cita Voltaire para explicitar com
clareza o seu pensamento: ”Ama-se a vida; mas o nada não deixa de ter o seu lado bom”; “Eu
não sei o que é a vida eterna, mas se existir é uma brincadeira de mau gosto”. Ora, quem em total
reflexão iria preferir uma vida de dores constantes ao invés do nada tranquilo? Se analisarmos
a vida de perto, veríamos quanto sofrimento detém dele, portanto, não seria a morte a coisa
mais fabulosa em relação à vida? Contudo, se a vida é dor e sofrimento, se a individualidade/o
egoísmo humano é um erro particular e um passo em falso, por consequência, algo que seria
melhor não ser, então, a morte é sua aniquilação, por conta disso, a morte é a cura da doença
humana: a Vontade; ou seja, para ele, no fundo somos algo que não deveria ser e, por conta
disso, deixamos de ser.
A morte é um acontecimento tão importante para Schopenhauer que atribui, até
mesmo, certa defesa ao suicídio; para ele, o suicida entende que precisa morrer, pois é preciso
que ele morra para que a vontade seja cumprida. A vida é um ciclo constante, onde a morte é
essencial no fluir deste ciclo. É preciso morrer para que a vida continue, é preciso que um saia
para que outro entre, isso significa que nossa matéria deve ser descartada com a morte. Esta é
então comparável ao pôr-do-sol em um determinado lugar, que é ao mesmo tempo, o nascer do
sol em outro.
O medo da morte é o problema da imortalidade: “Filosofar é se preparar para a morte”; já está mais que claro que a morte é essencial
para Schopenhauer e a vida, o maior erro já existente. Deste modo, se a morte é necessária, o
medo da morte seria uma tolice pois o valor da vida é incerto; para o filósofo, o temor da
verdadeira coisa que faz sentido na vida chega a ser ridículo, irracional e cego. Segundo ele, a
angústia da morte é desprovida do conhecimento, pois este atua em sentido oposto da vontade
de vida, nos revelando toda a insignificância da existência e combate, consequentemente, o
medo da morte; pois, se o conhecimento fosse presente, saberíamos que a vida e a morte não
passam de pequenos acidentes, para ele, é preciso sempre nascer de novo e retornar ao nada
depois de um curto espaço de tempo para dar lugar aos novos seres; Schopenhauer se pronuncia
sobre o assunto em uma fala em seus escritos sobre a morte, comparando o homem que ignora
a própria essência a uma folha seca que se queixa quando sabe que irá cair, sem lembrar que de
sua queda virá outra folhas, equiparando a geração dos homens com a geração das folhas; isto
é, a folha seca tem sorte de cair da árvore, pois é a partir da queda dela que surgem novas folhas
e que mantém a vida da árvore, assim como o homem tem sorte de morrer, pois é a partir dele
que novas vidas virão.
O filósofo americano Stephen Cave em uma palestra do TED (Tecnologia, Entretenimento e
Design) com o tema “As quatro estórias que nos contam sobre a morte” expressa bem o
pensamento Schopenhaueriano sobre o assunto em sua fala: “o saber da morte é o preço que
pagamos pela nossa inteligência”, esta inteligência seria o mesmo que consciência para
Schopenhauer, que é a única coisa que nos faz temer a morte.
Como o filósofo possuía total noção que para aliviar a maior angústia humana era
preciso um consolo, expressa então em alguns de seus escritos Da Morte; o primeiro é que em
alguns casos a morte pode ser um bem, uma saída, uma “amiga bem-vinda”, como nos casos
de grande sofrimento, dor, deficiência ou velhice, “neste sentido defunctus é uma bela
expressão”, afirma Schopenhauer.
Outro pensamento expressado por ele seria a falta de sentido do temor pelo não-ser
que seremos depois da morte, pois não tememos o não-ser antes de vivermos, pois perder algo
que não podemos constatar a ausência não é nenhum mal, ou seja, tornar-se não-ser não pode
nos afetar, da mesma forma que o não-ter-sido não nos afeta. É no mesmo posto de vista que a
morte é analisada por Epicuro quando diz que a morte não nos concerne, ou seja, quando
estamos vivos, a morte não está, e quando a morte está, nós não estamos mais.
Outro filósofo que expressa esse pensamento Epicurista é Wittgenstein (filósofo Austríaco, naturalizado
britânico), afirmando que a morte não é um acontecimento da vida porque não se vive a morte;
isso justifica que a morte não faz parte da vida, pois quando a morte está presente, a vida se
ausenta.
Está absolutamente claro que, para o filósofo estudado, a vida é algo muito pior do que
a morte, então se não temes a vida, também não dever temer a morte; assim, se vale a pena a
existir, a morte também deverá valer. Contudo, é justificável o temor do homem sobre a morte,
pois este é um ser repleto de vontade de vida e esta vontade pensa que será aniquilada com a
morte, por isso faz o homem temê-la.
Logo, ele deseja profunda e intimamente a imortalidade,
como uma solução para sua vida finita. No entanto, para Schopenhauer, desejar a imortalidade
da individualidade humana é querer perpetuar um erro ao infinito, pois cada uma dessas
individualidades não passam de um erro particular. A existência infinita seria monótona, fastio
e insignificante, uma vez que a vida se resuma em: pranto, dor e aborrecimento; viver para
sempre é repetir os mesmos erros e as mesmas dores perpetuamente. O conceito de eternidade
não existe na natureza humana, pois somos matéria que deve ser descartada e reciclada.
O medo da morte é inerente ao processo do desenvolvimento humano, se trata de um
medo do desconhecido – ou seja, uma angústia –, que é somado com medo da extinção, de
deixar tudo o que tem pra trás, de ficar sozinho e de sofrer. O resultado dessa valorização e
ilusão de uma vida eterna causa bem mais sofrimento do que aceitar a morte como algo que faz
parte do seu ciclo de vida.
A ideia do não-ser causa um desconforto gigantesco na pessoa, que acaba criando
alguns mecanismos de defesa, querendo fugir de sua própria realidade. A socioantropóloga da
Universidade de Quebec em Montreal-Canadá, Luce Des Aulniers, afirma que esse medo é o
“pivô das civilizações”, pois a partir do desejo de perenidade, se desenvolve as crenças,
ciências, artes, as técnicas, as instituições e até mesmo as organizações políticas e econômicas;
saber que somos finitos nos força a viver, a nos relacionar, criar e construir coisas para garantir
que não sejamos esquecidos.
Algumas pesquisas comprovam que pessoas com forte grau religioso possuem menos
medo da morte, comprovando que a fé seria então um dos meios que ajuda na superação do
terror da ideia de finitude. Outro meio também que funciona como um exercício espiritual de
aceitação diária da morte vem de certas ordens religiosas católicas que costumam se
cumprimentar dizendo: “Memento Morri”, que significa “Lembre-se de que vai morrer”, um
contraponto de “Carpe Diem” (“Aproveite o dia”).
Ou até mesmo como expressa o psicólogo
do Centro Dharma da Paz, em São Paulo, Bel Cesar: “Refletir sobre a morte pode torná-la mais
familiar e, portanto, menos ameaçadora”, ou seja, reconhecendo nossa finitude, reavaliamos
nossas escolhas e comportamentos; segue, pois, a mesma linha de pensamento do filósofo
Pascal que afirma a virtuosidade do homem quando sabe que irá morrer. Portanto, assemelha-se
ao pensamento schopenhaueriano, isto é, pensar na morte faz refletir sobre a verdadeira
finalidade da vida, que é viver cada instante com total consciência de que vai morre. Então.....VIVA LA MUERTE!
* sugestão de leitura: "O mundo como vontade e representação"
Se gostou compartilhe..