quarta-feira, 9 de maio de 2018

E o politicamente correto?

INTOXICADOS PELO "POLITICAMENTE CORRETO"

Por Alacir Arruda
Ta certo que já passei dos 40 anos, mas que esse mundo tá chato, isso tá! Quando eu era pequeno minha mãe sempre tentou me ensinar que deveria pensar muito bem antes de falar. Alguns amigos me acusam de não ter filtro entre o cérebro e a boca ou nos dedos,  já que agora grande parte de nossa comunicação é feita de forma escrita. Expressar-se tornou uma tarefa diária de diplomacia e para mim isso é fundamental. 
Hoje eu entendo os   conselhos da minha mãe, hoje eles  se tornaram muito mais importantes. Vivemos uma época que determinadas palavras se tornaram verdadeiros palavrões, temos de nos comportar de uma maneira esperada, proferir as opiniões apenas agradáveis aos outros, pois se não corremos um serio risco de sermos vistos como racistas, xenófobos, machistas, radicais, homofóbicos entre outros neologismo criados por uma sociedade que se perdeu - talvez intoxicados pela internet - em  "frescuras".  Hoje tudo é motivo para processos.
Na minha adolescência se o camarada falasse fino e quebrasse a mão, não tinha duvidas de que ele era  chamado de "Viado"  ou  "Bicha", e isso nada tinha a ver com preconceito,  tínhamos respeito por ele. Menina com comportamento masculino era chamada de "macho/fêmea"  ou "sapatão" e  nunca tive qualquer problema com elas. Como morava num bairro onde 90% eram negros eu tinha amigos com os seguintes apelidos: "Negão",  "Pretão" (que eram irmãos),  tinha ainda o "Meia Noite" e o 'Alemão",  todos negros, e continuam sendo  meus amigos ate hoje. Saímos juntos quando posso e nunca nenhum deles me chamou  de preconceituoso  por eu ser um ´pouco mais claro, ao contrário me tratam como irmão.  Hoje  em dia se eu ousar brincar com alguém nesses termos, vou em cana ou terei sérios problemas jurídicos é o tal do "politicamente correto" que o filósofo da Pondé chama de "censura moderna".
E o mais engraçado é que você pode ser acusado de coisas diferentes no mesmo dia e até de coisas que se confrontam. Pensemos juntos: se  uma mulher  chegar para alguma  amiga que entrou na moda da não depilação e falar “eu não gosto desta ideia, acho que depilação é uma forma de higiene”, bem  provavelmente ela será  acusada de estar corrompida pelos moldes sociais impostos às mulheres e vai escutar a tal frase: “moça, você é machista”. Mas se essa mesma moça chegar para um amigo e começar a falar sobre o direito da mulher sobre seu próprio corpo, acredite ela  vai se tornar a feminista mais radical na visão dele.
Durante o  governo Lula, em 2004, foi  lançada uma “Cartilha do Politicamente Correto”que vem sendo atualizada e ganhando outras versões pela rede. Na tal cartilha há palavras e expressões que segundo a autoria não se encaixam no falar “correto”. A primeira frase que, segundo a cartilha, é politicamente incorreta é “A coisa ficou preta”, pois “a frase é utilizada para expressar o aumento das dificuldades de determinada situação, traindo forte conotação racista contra os negros.” Ou então indo à letra B encontramos o termo “Barbeiro – O uso da expressão, no sentido de motorista inábil, obviamente é ofensiva ao profissional especializado em cortar cabelo e aparar barba.” 
Hoje o correto seria gritar: “vai lá motorista sem grandes aptidões ao volante!” Jamais barbeiro. . Mas será que vou estar ofendendo o volante?! Na verdade gritar, seja na rua, seja no transito, também não ´r  considerado  um comportamento aceitável. Ainda mais em um país feito para “Inglês ver”.  Pronto, ja fui  politicamente incorreto! 
Hoje, há uma superlativação dos fatos e, principalmente, de termos, mas a tal cartilha consegue levar isso ao extremo. Vou demonstra com um exemplo que acredito irá ficar muito claro, se é que já não ficou: “Comunista" – Termo utilizado até recentemente para discriminar ou justificar perseguições a qualquer militante de esquerda ou de causas sociais. Desde as revoluções que explodiram na Europa, no final dos anos 40 do século 19, e principalmente depois da Revolução Russa, em 1917, os adeptos do socialismo e do comunismo tornaram-se os principais alvos das polícias dos Estados liberais e dos propagandistas do capitalismo. Contra eles foram inventadas as piores calúnias e insultos, para justificar campanhas de perseguição que resultaram em assassinatos em massa, de caráter genocida, por exemplo, durante o regime nazista na Alemanha”.
Comunista para mim era a pessoa que tinha inclinações às ideias comunistas. Então, segundo o pensamento de tal cartilha, jamais poderei falar que tenho um amigo  anarquista – afinal os mesmos também sofreram perseguições por seus ideais e ainda sofrem – ou ainda, na ideia pregada pela tal cartilha sobre o termo comunista, toda vez que me dirigir ao meu querido  amigo la de Cachoeira Paulista, Guto Capucho, um professor de história extremamente questionador, um ativista (conhecidamente comunista), como “comuna”, estarei cometendo algo em detrimento à imagem dele?!
Temos de pensar se o politicamente correto na realidade não é uma forma de se viver os preconceitos de maneira velada, afinal se eu não falar, não expor os meus pensamentos, eu não ofendo o outro. Usar o bom senso para falar ou escrever é usual, mas o que estamos vendo é uma censura do tal politicamente correto. Não basta mudar a maneira de falar, mas sim a forma de agir, de pensar. Um país sem preconceitos não tem de ter cartilhas para se falar. Afinal quer algo mais preconceituoso que um negro vestido uma camisa escrita: 100% negro. Fico imaginando um branco usando uma  escrita:  100% branco,  como seria interpretado pela sociedade? É pessoal,  a coisa é mais complexa do que possa imaginar nossa pobre filosofia. De  uma coisa tenho certeza: preconceito,  ou qualquer forma de  extremismos,  só pode ser combatido com EDUCAÇÃO.  Por isso continuarei  chamando meus amigos de Negão e Pretão pois aprendi a respeitá-los antes de tudo.
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3 comentários:

  1. Discordo de algumas colocações suas e concordo com outras. Acho que foi infeliz ao colocar as expressões de tratamento de homossexuais na sua época, me passa a impressão que ate hoje vc continua assim.Ao mesmo tempo, como te conheço, sei que não é nem nunca foi homofóbico, vc me deu aula três anos eu saberei se fosse. Mas achei importante vc levantar essa questão do politicamente correto, realmente, ta demais. Vanessa-RJ

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  2. Acredito que os termos que você usou seriam expressões que julgaríamos comuns para nos referenciar aos amigos na época. Só que também muita gente sofria calada. Porém se falasse sofria mais ainda o que nos dá ideia que assumir determinado "gênero" era menos comum. Portanto alguns apelidos que eram colocados nos colegas, pareciam até carinhosos. Hoje em dia o que costumo falar para as crianças e adolescentes do meu dia a dia, é que tomem cuidado para não ofender o colega, com o intuito de amenizar atitudes discriminatórias.

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    1. Concordo professora, usar essas expressão hoje em dia seria considerado um desplante levando se em conta o nível que chegamos. Bjs obrigado por estar sempre aqui..

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