terça-feira, 8 de maio de 2018

MARX - 200 anos de uma lenda

KARL  MARX -  HÁ 200 ANOS NASCIA UMA LENDA.

Por Alacir Arruda

No último dia 5 de maio o mundo fez referência aos 200 anos de nascimento do autor com mais impacto na vida dos homens modernos: Karl Heirinch Marx. Nascido em 05 de maio de 1818 na pequena Trier - extremo oeste da Alemanha - Faleceu em 14 de março de 1883 em Londres. Marx demonstrou, desde muito jovem, uma forte tendência a quebrar paradigmas e uma liderança inata. Hoje, o comunismo inspirado nas suas críticas e ideias está em decadência e circunscrito a um país de apenas um bilhão e trezentos milhões de habitantes, a China, que ainda, de algum modo, reconhece-se no seu legado. Eu costumo dizer que nasci marxista, mesmo sem ter na, época, a minima ideia de quem era Karl Marx. O meu primeiro contato efetivo com suas ideias surgiu ainda no ensino fundamental, quando uma velha professora de história ( Profa. Ana Maria Delgado) me apresentou um livro chamado " O manifesto Comunista de 1848" - eu tinha 14 anos. É obvio que não entendi nada do que li, não tinha a menor ideia do era Luta de Classes, Mais-Valia e capitalismo selvagem etc.., entretanto uma frase do livro me chamou atenção" Proletários do mundo Uni-vos". Aos 17 anos eu já havia lido toda a sua obra, inclusive os três volumes de sua maior obra "Das Capitals" - O Capital..

Marx é uma daquelas figuras que fascina e sua leitura nos transforma de tal forma, que nunca voltaremos ao modo anterior. Ler Marx é compreender a ganância humana a partir de uma das suas piores face: "a exploração do homem pelo próprio homem". É evidente que seus críticos podem dizer que suas ideias eram utópicas e impraticáveis, respeito suas posições. Uma coisa é certa, estou velho demais para recomeçar discussões ideológicas do tipo: o comunismo é bom, o capitalismo é mal etc...Sobretudo hoje, num mundo polarizado e sem sentido onde qualquer idiota conectado a uma rede social expõe suas insanidades sem qualquer referencial e as ideologias, assim como meus heróis, morreram de overdose. Não posso, porém, deixar de reconhecer que um espectro ainda ronda o mundo. É o fantasma de Karl, o insubmisso. Mais do que prometer o paraíso futuro, Marx decodificou a engrenagem do capitalismo, que tratou de absorver parte da sua crítica para se manter. 

Poucos são os autores cujos nomes viram qualificativos. Quantos já viveram e morreram pelo marxismo? Quantos ainda se dizem marxistas? Quantos estudos marxianos? Quantas vezes o nome de Marx já foi citado por toda parte? Quem definiu com tanta precisão como ele um modo de produção, de vida e de organização social? “A riqueza das sociedades onde rege a produção capitalista configura-se em ‘imensa acumulação de mercadorias, e a mercadoria, isoladamente considerada, é a forma elementar dessa riqueza”. O capitalismo é o sistema onde tudo se torna mercadoria. Guy Debord, um dos seus discípulos tardios, escreveria, em 1967, uma síntese em tom de epitáfio para as ilusões socialdemocratas de muitos: “O espetáculo não canta os homens e suas armas, mas as mercadorias e suas paixões”. O espetáculo é o mundo como mercadoria.

Karl Marx é um nome que não produz indiferentes. Amado e odiado, venerado e conspurcado, continua a ser lido e discutido. Em seu nome foi construído um império, o soviético, e erguidos campos de concentração. Em seu nome se sonhou com a liberdade mais ampla possível e se praticou genocídio. Ele já estava morto. Na sua obra não se encontra autorização formal para tantos desatinos. O marxismo sempre quis ser ciência. É uma aspiração que sempre dividiu com a astrologia. O tempo das leis da história entrou em declínio. Salvo para aqueles que creem. As crenças são inabaláveis e prescindem da razão. A própria crença na razão absoluta vem sendo relativizada.

O intrépido Karl não perdoava a inação, criticava acidamente os filósofos de sua época: “Até agora os filósofos se preocuparam em interpretar o mundo de várias formas. O que importa é transformá-lo”. Os seus seguidores trataram de por as suas ideias em prática. Ou, melhor, em praticar transformações a partir das suas constatações sobre o funcionamento do capitalismo. O marxismo fracassou. O capitalismo jamais eliminou as misérias do mundo. Muitos marxistas alegam que os regimes ditos comunistas foram só deturpações das ideias de Marx. Capitalistas sustentam que só o liberalismo econômico completo pode resolver os problemas que ainda subsistem.

Max Stirner, contemporâneo de Karl Marx, desconfiava do comunismo e do capitalismo. Anarquista, disparava contra tudo e todos. Um exemplo: “O juiz está perdido se deixa de se comportar como uma máquina, se não tiver o apoio das ‘regras que servem para estabelecer a prova’. Se assim não for, ele tem apenas uma opinião como qualquer outro, e se decidir de acordo com essa opinião isso não é considerado um ato oficial; como juiz, ele só pode decidir de acordo com a lei. É caso para louvar os antigos parlamentos franceses, que examinavam eles mesmos o que era de direito e o faziam registar depois da sua aprovação. Esses, pelo menos, julgavam à luz do seu próprio direito, não se deixavam reduzir a máquinas do legislador, se bem que, enquanto juízes, tivessem de se transformar em máquinas de si mesmos”.

Uma verdade é  incontestável:   o mundo continua imbecil, liberais e marxistas ainda hoje praticam um jogo macabro: quem matou mais? O comunismo ou o capitalismo? Contas são feitas. Metodologias são empregadas. Para o pensador alemão Stirner eram dois sistemas escravizadores. A palavra “comunista”, como categoria da acusação, está novamente em moda no Brasil. Talvez tenha a ver com esta observação feita num clássico marxista, “A ideologia alemã”: “De fato, para o materialista prático, ou seja, para o comunista, é mister revolucionar o mundo existente, atacar e transformar praticamente o estado de coisas que encontra”. Nessa perspectiva, haveria duas “classes”, a dos que querem conservar e a dos que querem transformar revolucionando. Ou não?

Há quem queira transformar para conservar. Teriam Marx e Engels razão? “Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material dominante numa dada sociedade é também a potência dominante espiritual. A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe igualmente dos meios de produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles a quem são recusados os meios de produção intelectual está submetido igualmente à classe dominante”. Nunca é demais suscitar o debate. Talvez seja mesmo a tarefa mais importante numa época de polarização em que todos querem falar sozinhos. O que diria Karl Marx do marxismo praticado em 2018? Marx  entraria no Mc Donalds para fazer uma lanche? Bom, me atreveria dizer que sim, afinal, ele tudo, menos burro!


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3 comentários:

  1. Professor você se lembra daquele 3 ano do ensino médio em Lorena SP TURMA DE 2005, onde vc ministrava atualidades para nós no Anglo Drummond e o Laureno Historia? Um dia lhe perguntei porque vc não era mais rebelde, se o Marx dentro de vc havia adormecido..Não sei se lembra, mas vc sabiamente me respondeu. "Eu cresci". Naquele dia vc conquistou minha admiração pois para defender MARX num colégio elitista como aquele, o cara tem que ser foda, e vc era,só no ere extremista. Alacir sinto falta de suas aulas hoje eu moro em Vancouver -Canada, sou Engenheiro de Minas mas nunca o esqueci de vc e suas loucuras positivas. Saudações - Marcos Paulo.C.A

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    1. Prezado Marcos é obvio que lembro de você, sei de suas peripécias com as meninas do 3 ano. rs. Mas prometo não expor você aqui. Fico deveras feliz em saber que venceu na vida e que hoje mora num pais que é referencia mundial em qualidade de vida - só um lembrete o Gustavo ta ai também. Mas gradeço a lembrança e confesso que, apesar dos percalços, continuo na luta, não tenho mais uma aquela saúde que me fazia acompanha-lo em suas loucuras, hoje tenho a consciência de que meu tempo e curto por aqui em face disso, procuro escrever, é o que me sobrou., Abs amigo e sucesso nas terras dos esquimós. "O sonho não acabou" rs. Lembra?

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    2. O professor obrigado elembro sim dessa sua frase ao fimdas aulas, eu estou bem sim. Quanto ao Gustavo sim ele também mora no Canada so que nao aqui em Vancouver ele mota em Ottawa na capital ele é jornalista lá. Você lembra da Michele? aquela lorinha que só chorava na sala kk. Pois é, ela se formou em Ciências Sociais, como vc, e hoje trabalha na Suíça, na Cruz Vermelha. Outro que esta bem é o Pedro Henrique, aquele de Taubaté, é um alto executivo da petroleira francesa Total la em Cingapura. Seus pupilos estão bem professor. Saudações - Marcos Paulo C.A

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