O DIA DO TRABALHO, A ECONOMIA E VOCÊ.
Por Alacir Arruda
Hoje, 01 de maio, comemora-se o dia internacional do trabalho, um dia que o mundo deveria aproveitar para repensar as relações capital/trabalho em épocas de crescimento econômico baixo, taxas de desemprego nas alturas, pós verdade, xenofobia além do crescimento de discursos extremistas que, cada vez mais, conquistam jovens nas redes sociais mundo afora. Aliás, se é possível ver algo positivo na globalização é essa: “a democratização da desgraça”. Isso para nós, que sofremos a décadas com a chamada “síndrome de vira-latas”, soa como um bálsamo, nos sentimos melhor ao saber que o caos não é um privilégio apenas do Brasil, o mundo não vai bem, ( está certo que aqui além da desgraça econômica temos a companhia de “satanás” e seus assessores disfarçados de políticos). Mas prossigamos:
Segundo dados do Banco Mundial e do FMI , o crescimento mundial deve oscilar entre 1,5% a 3% a.a nos próximos 30 anos e para o Brasil as projeções não são nada animadoras, ainda, segundo esse mesmo estudo, o Brasil crescerá em torno de 2% a.a, em média, nos próximos 10 anos. Bom, pra você que esta lendo agora esse texto e não entende “picas” de economia, vou procurar ser mais claro e didático: Esse estudo do FMI traduzido numa linguagem que possa ser entendida por Anitta e Wesley Safadão, quer dizer mais o menos o seguinte: ESTAMOS FUDIDOS....Para você que é um analfabeto em economia, mas que sabe ao menos as 4 operações da matemática, vou dar um dado simples: para que possamos ter o poder de compra que tínhamos em 2008 - auge do deus lula - teríamos que crescer entre 5 a 8% a.a nos próximos 20 anos, ou seja a equação não nos favorece.
Voltemos ao erudito. Em 2013, numa das minhas aulas de filosofia para o curso de psicologia, eu usei a lousa para desenhar um gráfico em que descrevia a economia brasileira de 2014 até 2020. Ao traçar um prognóstico negativo afirmando que em 2016 estaríamos quebrados, em 2017 falidos e em 2020 pedindo moratória, um grupo de alunos quase me linchou, afinal, vivíamos ainda os resquícios da politica popularesca petista onde qualquer um, independente do poder aquisitivo, tinha uma Bizz, Titan ou Bross. Outros se orgulhavam em ter na sua garagem um carrinho popular 1000 como um Gol g4 ou g5 ou ainda um Celtinha, adquiridos em financiamentos à perder de vista, sem comprovação de renda ou fiador, naqueles feirões de automóveis aos domingos com direito a parquinho e pipoca para entreter seus “bacuris”. Ou seja, vivíamos um verdadeiro paraíso, ( grande parte deles perderam seus automóveis em ações de busca e apreensão pós 2014 – dados do Serasa).
Alguém, que agora lê esse texto, pode perguntar: “E você achou bom isso”? Não! Se dependesse de mim todos estariam com seus bens e felizes, mas a economia é uma ciência e, como tal, não perdoa governos incompetentes nem um povo conivente com desmandos. Ademais ensino filosofia e uma das funções dessa disciplina é desnaturalizar aquilo que achamos natural, é trazer o aluno para o mundo critico, um mundo sem “muletas” “deuses” ou qualquer outro subterfúgio, em suma, minha função é mostrar a realidade como ela se apresenta, sem maquiagem. Por isso somos odiados, afinal é bem mais simples ser bonzinho, vendendo a ideia de um mundo perfeito onde impera o amor e o respeito ao próximo, #SQN.
A questão é ideológica, na verdade o grande problema de acreditarmos nesses planos econômicos mirabolantes é que os adeptos dessa ideologia tendem a pensar que a sua visão ideal sobre o sistema social, econômico e político é única, útil e necessária. A ideia é que precisamos de boas opiniões sobre futuros perfeitos se quisermos um progresso incremental constante em direção a uma sociedade boa e justa. Se você não sabe para onde se dirigir no longo prazo – se você não sabe como é a utopia – como pode saber quais as próximas etapas a seguir?
Pensar numa utopia econômica como guia é intuitivo e atraente. Mas acontece que está errado. Esse tipo de ideal político pode nos atrapalhar no caminho real para um mundo melhor. Uma grande mudança na teoria política está em andamento. O espaço está acabando para os sistemas ideais. É claro que seus encantos demoram a morrer. Novos paradigmas levam uma geração ou mais para escorrer através dos meios intelectuais. Ainda não nos livramos das teorias ideais, especialmente nas políticas públicas. É dramático dizer que a morte da teoria ideal muda tudo, mas muda muito. Há impacto direto, por exemplo, no que significa ser um think tank (boa ideia) de princípios ideológicos.
Se você concordar com essa ideia, reconhecerá um grande erro intelectual nos discursos teóricos que muitas instituições constroem para promover ideologias. Isso não tem nada a ver com o liberalismo ou socialismo, por si só. Não importa qual padrão moral você usa para avaliar os sistemas, econômicos, políticos e sociais. Seja a liberdade como não coerção ou uma radical igualdade material. Não importa.
Toda politica econômica sem uma base racional é um chute. Nossas evidências sobre como sistemas políticos e sociais funcionam são limitadas pelas experiências históricas. Eis um grande problema para qualquer pessoa comprometida com uma revisão radical da sociedade. Quando nosso sistema predileto se distancia daqueles que existiram, também se afasta da base de evidências sobre como os sistemas sociais funcionam. Quanto mais radical for o mundo ideal, mais provável será o engano. Maior será a chance do sistema perfeito não ser mais livre, ou mais igual ou mais justo como se previa.
Por exemplo, não há nenhuma maneira de justificar racionalmente a crença de que o anarcocapitalismo será melhor em termos de “liberdade libertária” do que o Canadá de 2018; ou de que a substituição do capitalismo por uma “democracia econômica” levaria a maior igualdade do que a do Canadá de 2018.
Você pode achar que sabe como o anarcocapitalismo ou a “democracia econômica” ou o PT ou o PSDB etc....funcionam, mas você não sabe. Você está apenas adivinhando – extrapolando muito além de sua evidência. Você não pode estipular que funciona como você quer. Racionalmente falando, você não faz ideia se qualquer ideal radical é melhor do que um sistema real. Racionalmente falando, nem deveria ser ideal. Utopia é um chute.
A incerteza sobre qual o melhor esquema social nos abre para as evidências de uma maneira genuinamente curiosa e não tendenciosa. E nos liberta da ansiedade quando especialistas dizem o que não queremos ouvir. Isso, por sua vez, nos livra do desejo de fazer campanhas quijotescas contra a autoridade de especialistas legítimos. É possível agir como uma pessoa racional! Você deve aceitar que precisa de evidências extraordinárias quando não concorda com um consenso de especialistas em questões empíricas.
O reinado da teoria ideal na filosofia política transformou muitas pessoas incrivelmente inteligentes, de princípios e moralmente motivadas em ideólogos pouco confiáveis. Isso deixou o campo da análise de políticas racionais para tecnocratas pragmáticos, que também possuem problemas sérios. Longa história curta: acabamos com uma espécie de divisão nas políticas públicas, entre gente moralmente apaixonados, mas presa em bolha, e especialistas técnicos capazes de análises objetivas, mas desprovidos de inspiração.
Precisamos de pessoas apaixonadas pela liberdade ou pela justiça social (ou o que você tem como valor), que buscam ativamente soluções para a violência e a injustiça, mas não pensem que sabem exatamente como é a libertação ideal ou a justiça social. Portanto, agem com base em alternativas reais, avaliadas objetivamente.
O espaço de possibilidade é infinito. É preciso mais do que energia e entusiasmo para explorá-lo, é preciso estudar, adquirir conhecimento, questionar. A geração de hipóteses imaginativas é grande e intangível, e sem ela o progresso é impossível ou devagar, mas é fundamental entender como verdadeiramente as coisas acontecem. Os técnicos, os quants, os ratos de laboratório tendem a ser horríveis em inventar hipóteses, mas sem eles, não haveria qualquer evolução. A paixão moral ideológica é um cavalo selvagem perfeito para motivar a exploração do sonho próximo e viável. Graças à tirania do ideal, essa fonte de energia intelectual é desperdiçada.
Nem sei por que escrevo isso..rs.. Deve ser falta de sono. Mas para encerrar, volto ao inicio do texto e aqueles alunos da psicologia que queriam me linchar, ou me chamavam de louco quando dizia que o país caminhava para o abismo. Será que fariam o mesmo hoje???
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Professor eu me recordo dessa aula em 2013, realmente não imaginávamos na época que poderíamos chegar a tal ponto. Se bem que eu nunca duvidei do que disse naquele dia. Sinto falta de você de suas aulas de sua forma simples de ensina algo complexo, impossível nao aprender com vc. Sei do que fizeram contigo, e lamento uma cara com tanto conhecimento ter sido esquecido simplesmente por não se curvar ao sistema. Mas como você mesmo disse um dia numa de suas aula: nunca devemos esperar reconhecimento por aquilo que fazemos, mesmo assim é indispensável que o façamos. Hoje sou psicologa e carrego um pedaço seu dentro de mim a cada dia que vejo a sociedade se afundando por caminhos eivados de ignorância. Saudades Alacir, o melhor professor que já tiver. Bianca em
Bom dia Alacir. Confesso a você que é um texto tão instigando, que a gente lê sem respirar. É reflexivo e preocupante. Mas no entanto devemos ter esclarecimentos a respeito do que vivemos. É necessário ter mais que energia e entusiasmo. Grande verdade. Buscar conhecimento. Quanto conhecimento prof. Textos cada vez melhores. Vou fazer minha parte. Compartilhar. Abraços
ResponderExcluirObrigado professora.. você como um professora de literatura, conhece a minha historia, deve imaginar o quanto luto por uma sociedade mais pensante. No momento estrou lendo Alvares de Azevedo e, como ele, imagino um mundo bem diferente desse. Bjs, e obrigado por estar sempre valorizando esse blog.
ExcluirProfessor eu também estava na sala aquele dia, e hoje sou obrigado a tirar o chapéu ha pra voce, independente do que esses FDP lhe fizeram. Alacir volta com o Café Filosófico, garanto que sera importante para quem lhe admira. abs parceiro saudades das violadas . Cleber
ResponderExcluirObrigado Cléber, mas tenho hoje uma saúde frágil, porem, ficam as boas lembranças daqueles encontros, foram 2 anos e 16 encontros. Agradeço aos alunos que ajudavam, Priscila, Camila, Taiane, Osmar enfim, todos...fizemos história. Abs
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