sexta-feira, 23 de agosto de 2013


O homem nasce apenas com uma condenação: Ser Livre. 
Por Alacir Arruda
                Vivemos em um país que, em tese, usa a liberdade como atributo fundamental nas relações sociais. E, quando alguém lhe relembra que "esse é um país livre", você sabe o que isso significa. Você é geralmente livre para fazer o que quiser (isso é chamado de liberdade "positiva"), e está geralmente livre de ser perseguido por suas idéias (liberdade "negativa"). Tal verdade positiva envolve escolhas; liberdade negativa, consequências. 
      Essas duas liberdades gêmeas são realmente maravilhosas e temos sorte de tê-las. Mas a palavra importante aqui é sorte. Se amanhã, numa eventualidade improvável, um ditador viesse a tomar o puder, nossas preciosas liberdades poderiam ser abolidas em um segundo. Que restaria? Existe algum tipo essencial de liberdade que jamais possa ser tirada de nós? 
      Segundo Jean-Paul Sartre, o filósofo existencialista francês, a resposta é sim. Isso é bom, mas só em parte. Sartre diz que ser humano é um  ser completamente livre, para sempre ter o poder da escolha. Mas a única coisa que não podemos escolher é renunciar à escolha, ou citando o paradoxo de Sartre: "Estou condenado a ser livre". Escolher não agir é ainda uma escolha. Esse e o dilema existencial. 
     A filosofia de Sartre sobre a liberdade deriva de seus estudos sobre fenomenologia, a filosofia da consciência pura. A seu ver o que distingue a consciência é que ela tanto pertence ao mundo como não pertence ao mundo. Quando refletimos sobre como pensamos, quando nos tornamos autoconscientes, tratamos nosso pensamento como se ele fosse um. objeto no mundo. Dizer "eu fiquei confuso com esta explicação" é transcender nosso próprio pensamento e refletir sobre ele. Mas o mundo, da forma corno o conhecemos, é apenas uma reunião de todos os tais objetos "transcendentes": coisas que percebemos e sobre as quais pensamos. 
       Ao mesmo tempo, a consciência não é do mundo. Quando sonhamos, somos desligados de qualquer sentido externo. Quando imaginamos - por exemplo, quando fantasiamos sobre ganhar na loteria saímos do presente (o mundo como ele é) e projetamos um futuro melhor (o mundo como ele não é) Corno esse futuro não é real, ele é não-existente: ele é o nada. 
       De acordo com Sartre, toda ação surge desse nada Se você estivesse sempre diretamente sintonizado ao presente, incapaz de escapar dele, você não só não poderia imaginar como também não poderia agir. O presente é apenas o que é e a menos que você considere como as coisas poderiam ser diferentes não existe motivo para se fazer nada.  
      A famosa "náusea" de Sartre surge da absoluta liberdade de escolha, a consciência de que você é sempre capaz de qualquer ato possível. Por exemplo, pode acontecer que em um dado momento você escolha se matar; e esse pensamento - que abre um abismo profundo no eu gera ansiedade e náusea, (Como você tem a possibilidade de fazer isso, você tem medo de vir a fazer isso.) Estar "condenado a ser livre" significa que somos os únicos responsáveis por gerar, a partir de cada situação, nosso próprio "mundo" -- responsáveis pela escolha de nossas próprias metas, de nossos métodos de alcançá-las, de nossas respostas à ansiedade da escolha.Talvez você escolha se matar; ou talvez, pelo menos, você opte por continuar fazendo suas opções.
       Muitas pessoas, no entanto, recusam-se a encarar estes fatos, porque não podem suportar a idéia de que são responsáveis pelo seu mundo. Como já disseram muitos analistas de nossa época, nós preferimos nos ver mais como vítimas do que como adultos responsáveis. Ao fugir da realidade, colocamos a culpa de nossas péssimas escolhas, ou de nossos esforços fracassados, em uma infância infeliz, na opressão cultural, na classe social, no preconceito, ou na sociedade em geral, Sartre não negaria que infâncias infelizes e preconceitos existem e são maus. Mas ele rotulou de "má fé" a recusa em assumir nossas livres escolhas para interpretar e responder aos fatos da vida.

10 comentários:

  1. Estamos condenados à liberdade, e isso assusta muito porque nos obriga a tomar decisões e nos responsabilizarmos por elas. Também, nos dá uma sensação de fragilidade, insegurança e desamparo, pois nossa liberdade nos fornece a exata dimensão de nossa condição humana. Certamente, não poderemos fazer tudo, porém podemos "tentar fazer tudo o que quisermos". É necessária uma boa dose de maternidade psicológica pra aguentar o "peso" de sermos livres. Por isso mesmo, as pessoas mais infantis e medrosas fazem o possível para se agarrar a uma esperança de que "alguém poderoso" a castigará pelas más ações e a recompensará pelas ações boas. Isto dá uma ilusão de sentir-se protegido, seguro, tal qual uma criança necessita acreditar que seus pais super-poderosos poderão protegê-la de qualquer perigo.

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  2. Cada escolha carrega consigo uma responsabilidade. Se escolho ir a algum lugar, falar alguma coisa, escrever um artigo, tenho que ter consciência de que qualquer conseqüência desses atos terá sido resultado de minha própria escolha. E cada escolha ao ser posta em ação provoca mudanças no mundo que não podem ser desfeitas.

    Muito bom o post, faz a gente refletir bastante.

    Abraços.

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    1. Obrigado pela bela contribuição que tem dado aos meus inscritos..

      abs

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    2. Gosto muito dos seu blog. Não sou nenhuma crítica ou filosofa, mas passo sempre quando posso para dar minha contribuição.

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  3. Prof. qual a sua opinião sobre o programa mais médico, trazer médicos de fora para trabalhar no Brasil?

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    1. Como qualquer brasileiro me sinto envergonhado de ter que recorrer a estrangeiros para resolver uma demanda interna...Isso é mais uma disputa politica que qualquer coisa..o Brasil tem médicos suficientes para atender nosso povo.. Porem, assim com o a educação, a saúde no Brasil é usado como aparelho ideológico do Estado com fins eleitoreiros...Em resumo, só quando tivermos uma sociedade minimamento culta, poderemos entender o que é saúde básica..

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    2. Mas os médicos brasileiros brasileiros não querem ir pra periferias, lugares mais afastados, querem só ficar nos grandes centros.

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    3. Sim e eles não querem por quê?

      1) O que adianta um medico ir para o interior do Brasil , diagnosticar a doença e não ter laborartorios para exames complementares..
      2) 99% dos municipio brasileiros são governados por quadrilhas...que tratam o repasse do SUS como complemento de salario.
      3) O medico não tem qualquer segurança para se instalar num fim de mundo com a familia..Escola para os filhos?? lazer??
      - O que falta é o governo Federal criar vergonha na cara e tratar a Saude como um problema de Estado. Criar politicas publicas que possam oferecer uma estrutura minima para qeu um profisisonal da saude possa exercer seu oficio de forma digna...
      -Esses medicos estrangeiros que foram contratados,, coitados, quando verem a realidade do interior do Brasil..eles vão sumir..daqui...pode anotar isso

      UM ABRAÇO...E DESCULPE PELO DESABAFO...

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