Existe uma velha máxima de
Aristóteles que afirma: “Quem é o cidadão? Cidadão é aquele que é capaz
de governar e de ser governado.” Há milhões deles no Brasil. Por
que não seriam eles capazes de governar? Porque toda a vida política tem
justamente como objetivo des-ensiná-los, convencê-los que existem peritos a
quem se deve confiar o governo. Existe, portanto, uma contra-educação política.
Ao invés das pessoas se habituarem a exercer todo tipo de responsabilidade e a
tomar iniciativas, habituam-se a seguir cegamente ou a votar nas opções que
lhes são apresentadas. E como não são idiotas, as pessoas passam a acreditar
cada vez menos na política, tornando-se cínicas.
Nas sociedades modernas, desde os tempos das
revoluções americana (1776) e francesa (1789) e mais ou menos até o fim da
segunda guerra mundial (1945), havia um vivo conflito social e político. Haviam
oposições, as pessoas se manifestavam sobre causas políticas. Os operários
faziam greve, e nem sempre por interesses mesquinhos, corporativos. Havia
grandes questões que diziam respeito a todos os assalariados. Foram lutas que
marcaram os dois últimos séculos. Observa-se, hoje, um recuo na atividade das
pessoas.
É um círculo vicioso. Quanto mais cresce o
número de pessoas que desistem da atividade, mais os burocratas, os
politiqueiros, os pretensos dirigentes, vão tomando conta do pedaço. Eles
chegam com a justificativa: “Estou tomando a iniciativa porque ninguém faz
nada…” E, quanto mais dominam, mais as pessoas ficam dizendo: “Não vale a pena
se envolver, já tem bastante gente cuidando e, além disso, de qualquer maneira,
não se pode dar jeito em nada.”
O segundo motivo, vinculado ao primeiro, está
na dissolução das grandes ideologias políticas – fossem elas revolucionárias ou
reformistas – que queriam realmente operar mudanças na sociedade. Por mil e uma
razões, essas ideologias foram desconsideradas, deixaram de corresponder às
aspirações, à situação e à experiência histórica da sociedade. Um acontecimento
de enormes proporções foi o colapso da URSS e do comunismo em 1991.
Será que algum, entre todos os
políticos de esquerda, para não dizer politiqueiros, parou para refletir sobre
o que aconteceu? Por que isso aconteceu e quem soube, como diria o bobo, tirar
as lições? Uma evolução desse tipo mereceria uma reflexão muito aprofundada,
começando pela sua primeira fase – a acessão à monstruosidade, ao
totalitarismo, ao Gulag etc. – e passando em seguida ao colapso propriamente
dito; e uma conclusão sobre aquilo que um movimento que quer mudar a sociedade pode
fazer, deve fazer, não deve fazer, não pode fazer. No entanto, o que temos?
Nada, absolutamente nada!!
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