sábado, 24 de agosto de 2013

Por que é tão importante  discutirmos a juventude?

Por Alacir  Arruda

     No mundo  temos hoje  o maior número de jovens da história da humanidade. Quem afirma isso é a ONU (Organização das Nações Unidas), que diz que nunca tivemos nem nunca teremos mais jovens (que eles consideram como faixa etária, restrita de 15 a 24 anos) do que temos neste período, que vai de 1990 até 2020. Neste momento a população está tendo menos filhos e vivendo mais anos, fazendo com que a população mundial vá envelhecendo. Por isso o prognóstico que afirma que nunca teremos tantos jovens. Bom, isso ajuda a entender o porque falamos tanto sobre juventude hoje em dia. Mas mesmo assim não explica tudo. Avancemos.
      No Brasil, temos a quinta maior população jovem do mundo, com 34 milhões de jovens (de 15 a 24 anos pela ONU) em 2000. Isto representa 20% da população brasileira, e quase equivale a toda população Argentina (por volta de 36 milhões de pessoas). Desses jovens brasileiros, 40% estão em situação de extrema pobreza, em famílias com meio salário mínimo de renda per capita ou sem rendimento nenhum.
     Alguns dados nos ajudam a entender a situação das juventudes brasileiras hoje.  
     Vejamos como é o entendimento, por parte de outros sujeitos coletivos, neste complexo tema.
     A ONU entende que a juventude é estratégica neste novo milênio, pois, além de vivermos esta “onda jovem” (maior quantidade de jovens), assume uma condição de agente de desenvolvimento local. Isto é, jovem é aquele que só participa politicamente das atuações locais, pequenas e restritas. Ele ou ela podem até opinar e atuar na melhoria da praça, da comunidade ou da escola. Mas não é a ‘cara do jovem’ mexer com coisas grandes, discutir, por exemplo, sobre Desenvolvimento Sustentável. E este modo de pensar a condição juvenil se perpetua até em espaços políticos que questionam a ONU e o pensamento único neoliberal. Uma metáfora que reflete o que ocorre com os espaços de participação das juventudes é que, até podemos participar da ‘festa’, mas não no salão de festas com copos de vidro, e sim lá no quintal com copos de plástico, pois não quebra nada e nem suja dentro, assim, a participação das juventudes dá menos prejuízo.
     Esta comparação simplista reflete também uma das visões dominantes neste debate sobre as juventudes, que é a de que jovem é problema. Esta idéia é fruto de uma turma de pesquisadores americanos que estudaram a juventude na perspectiva de diminuir os ‘problemas e desvios da juventude delinqüente’. Entendem as juventudes como sinônimo de gangues, problemas sociais e período em que não podem ficar soltos, livres, pois causam problemas. Com certeza já ouvimos que ‘cabeça vazia é a morada do diabo’. Ora, é esta idéia aplicada na prática que resultou em enfocar a juventude como possível e potencial problema. Assim, surgem as FEBEMs e a discussão de redução da maioridade penal.
     Outra visão comum neste tema é a que reflete o oposto, que as juventudes são a salvação da lavoura. Ou seja, os e as jovens são portadores do futuro melhor e desejável, farão o que os adultos não conseguiram fazer. Nesta concepção a juventude é a via de redenção, ela fará a Revolução, pois os e as jovens são rebeldes e criativos. Criticamos esta visão também por ser naturalizada e naturalizadora da realidade, por exemplo, como se sempre quem é jovem é rebelde. Nasce barba e crescem os seios, e são rebeldes. É biológico, é natural desta fase da vida. Esta idéia esquece-se que o que ocorre na realidade é um diálogo intergeracional, onde nem somente a juventude nem os adultos sem ela, transformam o mundo e nos transformamos também.
     Existem outras visões também que refletem análises problemáticas de interpretação da realidade, como por exemplo, a que não atribui as juventudes características próprias e, portanto uma especificidade. Afirmam que a condição juvenil e a condição adulta são idênticas. É como se a criança fosse um ‘adultinho’ em miniatura, e o jovem um adulto mais novo e rebelde. Sendo assim, não precisamos discutir uma metodologia específica no trabalho com as juventudes nem pensar em meios de facilitar sua participação.
    Há também um entendimento que nega isso, mas atribui à juventude uma condição específica pré-conceituada. Generaliza-se demais o que específico das juventudes, ou atribuem-lhe características. Desde afirmações do tipo “a juventude é alienada” até “a juventude só quer saber de festas, é hedonista” (hedonista é aquele (a) que tem o prazer como objetivo da vida). Também tem o problema de naturalizar elementos que são sociais, culturais e econômicos, portanto históricos.


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