Por que é tão importante discutirmos a juventude?
Por Alacir Arruda
No mundo temos hoje o maior número de jovens da história da humanidade. Quem afirma isso
é a ONU (Organização das Nações Unidas), que diz que nunca tivemos nem nunca
teremos mais jovens (que eles consideram como faixa etária, restrita de 15
a 24 anos) do que temos neste período, que vai de 1990 até 2020. Neste momento
a população está tendo menos filhos e vivendo mais anos, fazendo com que a
população mundial vá envelhecendo. Por isso o prognóstico que afirma que nunca
teremos tantos jovens. Bom, isso ajuda a entender o porque falamos tanto sobre
juventude hoje em dia. Mas mesmo assim não explica tudo. Avancemos.
No
Brasil, temos a quinta maior população jovem do mundo, com 34 milhões de jovens
(de 15 a 24 anos pela ONU) em 2000. Isto representa 20% da população
brasileira, e quase equivale a toda população Argentina (por volta de 36
milhões de pessoas). Desses jovens brasileiros, 40% estão em situação de
extrema pobreza, em famílias com meio salário mínimo de renda per capita ou sem
rendimento nenhum.
Alguns
dados nos ajudam a entender a situação das juventudes brasileiras hoje.
Vejamos
como é o entendimento, por parte de outros sujeitos coletivos, neste complexo
tema.
A ONU
entende que a juventude é estratégica neste novo milênio, pois, além de
vivermos esta “onda jovem” (maior quantidade de jovens), assume uma condição de
agente de desenvolvimento local. Isto é, jovem é aquele que só participa
politicamente das atuações locais, pequenas e restritas. Ele ou ela podem até
opinar e atuar na melhoria da praça, da comunidade ou da escola. Mas não é a
‘cara do jovem’ mexer com coisas grandes, discutir, por exemplo, sobre
Desenvolvimento Sustentável. E este modo de pensar a condição juvenil se
perpetua até em espaços políticos que questionam a ONU e o pensamento único
neoliberal. Uma metáfora que reflete o que ocorre com os espaços de
participação das juventudes é que, até podemos participar da ‘festa’, mas não
no salão de festas com copos de vidro, e sim lá no quintal com copos de
plástico, pois não quebra nada e nem suja dentro, assim, a participação das
juventudes dá menos prejuízo.
Esta
comparação simplista reflete também uma das visões dominantes neste debate
sobre as juventudes, que é a de que jovem é problema. Esta idéia é fruto
de uma turma de pesquisadores americanos que estudaram a juventude na perspectiva
de diminuir os ‘problemas e desvios da juventude delinqüente’. Entendem as
juventudes como sinônimo de gangues, problemas sociais e período em que não
podem ficar soltos, livres, pois causam problemas. Com certeza já ouvimos que
‘cabeça vazia é a morada do diabo’. Ora, é esta idéia aplicada na prática que
resultou em enfocar a juventude como possível e potencial problema. Assim,
surgem as FEBEMs e a discussão de redução da maioridade penal.
Outra
visão comum neste tema é a que reflete o oposto, que as juventudes são a
salvação da lavoura. Ou seja, os e as jovens são portadores do futuro melhor e
desejável, farão o que os adultos não conseguiram fazer. Nesta concepção a juventude
é a via de redenção, ela fará a Revolução, pois os e as jovens são rebeldes
e criativos. Criticamos esta visão também por ser naturalizada e naturalizadora
da realidade, por exemplo, como se sempre quem é jovem é rebelde. Nasce barba e
crescem os seios, e são rebeldes. É biológico, é natural desta fase da vida.
Esta idéia esquece-se que o que ocorre na realidade é um diálogo
intergeracional, onde nem somente a juventude nem os adultos sem ela,
transformam o mundo e nos transformamos também.
Existem
outras visões também que refletem análises problemáticas de interpretação da
realidade, como por exemplo, a que não atribui as juventudes características
próprias e, portanto uma especificidade. Afirmam que a condição juvenil e a
condição adulta são idênticas. É como se a criança fosse um ‘adultinho’ em
miniatura, e o jovem um adulto mais novo e rebelde. Sendo assim, não precisamos
discutir uma metodologia específica no trabalho com as juventudes nem pensar em
meios de facilitar sua participação.
Há também
um entendimento que nega isso, mas atribui à juventude uma condição específica
pré-conceituada. Generaliza-se demais o que específico das juventudes, ou
atribuem-lhe características. Desde afirmações do tipo “a juventude é alienada”
até “a juventude só quer saber de festas, é hedonista” (hedonista é aquele (a)
que tem o prazer como objetivo da vida). Também tem o problema de naturalizar
elementos que são sociais, culturais e econômicos, portanto históricos.
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