terça-feira, 27 de agosto de 2013

SCHOPENHAUER E O AMOR


SCHOPENHAUER (1788-1860) – O FILÓSOFO DO HUMANISMO. Introduziu o budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã. Para ele, o mundo não passava de uma representação, uma síntese entre o objeto e a consciência humana. O que havia de real era a vontade, irracional e insaciável, por isso causa de todo sofrimento. Apesar do pensamento, apontar saídas para as dores do mundo: a contemplação da arte, a compaixão e, sobretudo, a anulação da vontade, uma fuga para o nada.
Livros:
A arte de ter Razão.
O mundo como Vontade e Representação.
Metafísica do Belo.
Fragmentos para a História da Filosofia.

Todos nós teorizamos sobre a felicidade que o amor nos trará. A maioria faz da busca pelo amor a meta da sua vida. Mas o amor é um tema sobre o qual a filosofia não costuma falar. Como ele é uma das experiências da vida mais transformadoras e importantes, seria plausível imaginar que a filosofia fosse levar o amor muito a sério. Mas, de maneira geral, isso não acontece. Basicamente, o tema é deixado para os poetas, histérico e apresentadores de programas vespertinos de TV. Mas houve um filósofo que leva o amor muito a sério, e que o via como uma de nossas preocupações centrais. Seu nome era Arthur Schopenhauer.
Schopenhauer  foi um filósofo que parecia entender a intensidade do que sentimos quando nos apaixonamos. Ele achava que estávamos certos de viver em função do amor, e que não havia outra coisa mais importante. Nosso erro segundo ele, era achar que a felicidade tinha algo a ver com isso.
De início, é difícil de acreditar que Schopenhauer pudesse entender de paixão ou que pudesse ajudar alguém que estivesse apaixonado.. Ele nunca se casou, vivia sozinho e, às vezes, mostrava-se bastante avesso às mulheres. Ele nasceu em Danzig, em 1778, mas passou a metade da vida em Frankfurt. Desde cedo buscava a felicidade no amor. Era inteligente, seguro, bonito e, depois que perdeu o pai, aos 17 anos, muito rico também. Mas não fazia sucesso com as mulheres, escrito de próprio punho.
Em 1821, aos 33 anos, ele conheceu uma mulher que gostou dele. Era uma cantora de 19 anos, Caroline Medon, mas ele nunca quis formalizar a relação. Eles chegaram a ter um filho. Ela queria se casar, mas ele não quis. Ele dizia que quando duas pessoas se casam, acabam fazendo de tudo para se detestar. Depois de dez anos de idas e vindas, o relacionamento acabou.
Mais velho, ele teve um relacionamento com a escultora e admiradora de sua filosofia Elizabeth Ney, que foi a Frankfurt fazer um busto seu, mas esse caso não pode ser considerado o ápice de uma vida romântica com a qual o jovem Schopenhauer sonhara.
Mas como um filósofo com uma vida romântica desastrosa poderia ter algo a nos dizer sobre o amor?
Para começar, ele dizia que o amor não é um assunto banal que não devemos vê-lo como distração de assuntos mais sérios ou adultos. Não é por acaso que se trata de um sentimento tão avassalador, capaz de tomar conta de nossa vida e de todos os momentos de nosso dia.
Ele diz que não devemos nos culpar tanto pelo estado de desespero e obsessão em que entramos se o amor fracassa. Ficar surpreso com a dor da rejeição é ignorar o quanto de entrega a aceitação exigiria.
Criamos histórias de amor para nós mesmo, imaginamos que nos apaixonaremos por um parceiro que nos fará felizes. Mas Schopenhauer via isso de maneira diferente. Para ele, nós nos submetemos a telefonemas ansiosos e jantares caríssimos, a luz de velas por uma única razão: o impulso biológico para perpetuar a espécie. Ele o chamava de “impulso de vida”. “Nada na vida é mais importante que o amor, porque o que está em jogo é a sobrevivência da espécie”. O amor é uma tática da natureza para nos levar a ter filhos. Por mais que gostemos de nos imaginar como seres românticos somos todos, basicamente, escravos do impulso de vida.
O fundamental na tese de Schopenhauer é que impulso de vida pode atuar de forma bastante inconsciente. Conscientemente, as pessoas podem querer ir a uma festa, mas inconscientemente o que as movem é a necessidade de se reproduzirem. Ele precisa ser inconsciente para ser eficaz, porque ninguém assumiria conscientemente o fardo da perpetuação. “O instante em que dois jovens se sentem atraídos um pelo outro deve ser considerado o nascimento de um novo indivíduo”. Sua tese explica a intensidade dessa atração.
Mas por que nos sentimos atraídos por algumas pessoas e não por outras?
Um dos maiores mistérios do amor é “por que ele?” ou “por que ela?
Inúmeras pessoas não provocam qualquer reação em nós, mesmo sendo, em tese, nossos pares ideais e acabamos nos apaixonando por outras com quem a convivência pode ser difícil. Schopenhauer tinha uma resposta: apaixonamos por uma pessoa quando sentimos, inconscientemente que ela pode nos ajudar a produzir herdeiros saudáveis. O amor é apenas nosso impulso de vida, descobrindo alguém que ele considere o pai ou a mãe ideal de nossos filhos.
Isso levou Schopenhauer a reflexões interessantes sobre a regra da atração. Atraímo-nos por pessoas capazes de contrabalançar nossas imperfeições, garantindo, assim, filhos fisicamente e mentalmente equilibrados. Pessoas muito altas são atraídas por parceiros mais baixos para que os filhos não sejam gigantes. Ele acrditava que a busca do equilíbrio se estendia até o tom da pele. Algumas das idéias de Schopenhauer podem parecer descabidas hoje. Há muitos tipos de vínculos emocionais e sexuais ao qual sua tese não se aplica.
Entretanto, uma geração antes de Darwin e cerca de 60 anos antes de Freud, ele foi o primeiro a apontar razões inconscientes e biológicas para o amor.
Buscar a felicidade e ter filhos são projetos divergentes que o amor, astutamente nos faz enxergar como um só, pelo tempo necessário para produzir e criar os filhos. Só muito depois, com herdeiros saudáveis e equilibrados, correndo pelo jardim, nos damos conta de que fomos enganados, condenando-nos a separação ou começamos a passar os jantares num silêncio hostil.
Schopenhauer coloca-nos diante de uma escolha tácita. É como se, na hora de selar o casamento, um dos dois, o indivíduo ou o interesse da espécie, tivesse de sair perdendo. Para ele, não há dúvida que o indivíduo sofre mais.
Infeliz no amor, e tendo sua obra quase completamente ignorada, Schopenhauer vivia recluso num modesto conjugado em uma rua de Frankfurt chamada Schöne Aussicht, um nome irônico diante do pessimismo de sua visão, já que significa “belas perspectivas” em alemão.
No meio de tanta infelicidade uma de suas alegrias era a música. Antes do almoço ele tocava uma hora de Rossini ou outro compositor. Ele desenvolveu um pessimismo quase anedótico, aconselhando seus leitores a engolirem um sapo todas as manhãs para garantir que não se deparariam com nada mais repulsivo ao longo do dia. “A existência humana só pode ser algum erro. Pode-se dizer que, se hoje ela está ruim, as coisas só tendem a piorar, até que o pior de tudo aconteça.” Escreveu Schopenhauer. “É mais seguro confiar no medo do que na esperança.” Esta é uma frase com o pessimismo típico de Schopenhauer.
As companhias mais íntimas do filósofo passaram a ser vários poodles. Ele dedicava aos cães todo o seu afeto. Chegou a batizar um de Atma, a Alma primordial para os brâmanes, e passou a se interessar pela causa do bem-estar animal.
No fim da vida, suas idéias enfim, começaram a conquistar adeptos. Seu último livro, uma coletânea melancólica de ensaios e aforismos filosóficos, tornou-se um sucesso de vendas. Alemães amantes da filosofia começaram a comprar poodles em sua homenagem.
No auge da fama, ele a definiu dizendo: “ O Nilo, enfim, chegou ao Cairo.”Mas ele não teve tempo de desfrutar do sucesso e desenvolver pensamentos alegres. Em 1860, Schopenhauer voltou para casa, queixou-se de falta de ar e morreu.
“Se um deus criou este mundo não gostaria de ser esse deus, pois sua miséria e seu infortúnio me partiram o coração” disse Schopenhauer.
Talvez pareça estranho achar que Schopenhauer possa nos ajudar nas questões do amor, tendo sido um sujeito tão amargurado. Mas acho que ele nos deixou idéias confortadoras a respeito. Para começar, ele disse que se apaixonar é inevitável, que a biologia é mais forte que a razão. Assim, não somos infelizes por mero acidente, essencialmente somos iguais a todos ou outros animais. Sentimo-nos impelidos a encontrar um parceiro, a gerar filhos e criá-los e somente uma força poderosa como o amor seria capaz de nos motivar para isso.
Schopenhauer nutria um interesse especial por animais feios como toupeiras, porcos-espinhos e mangustos-anões. O que despertava seu interesse era a vida dura que eles levavam enfrentando invernos rigorosos, vivendo debaixo da terra e tendo filhos que mais se parecem com vermes gelatinosos e o fato de nada disso impedir que se reproduzissem. Ele achava que esses animais podiam nos ensinar sobre nosso comportamento, sobre como nos dedicamos à reprodução sem pensar necessariamente em felicidade. Se a reprodução nos entristece, se achamos que o casamento não vai bem, podemos aprender como esses nossos amigos vendo com eles não fazem isso por felicidade, mas porque precisam, por causa do impulso da vida.
Schopenhauer tem mais uma idéia a respeito do amor que pode nos ajudar quando somos rejeitados, muitas vezes, não entendemos porque o parceiro quis romper e nos sentimos rejeitados. Ele diz que quem termina o namoro não está rejeitando o parceiro. Não sou eu que não mereço o amor, mas é o impulso de vida de minha parceira que considerou que ela poderá ter filhos mais saudáveis com outro! Encontrei outra mulher que me considera o parceiro ideal, mesmo que apenas por uma questão de equilíbrio entre o meu nariz e o dela.
Talvez você estivesse feliz com a pessoa que o rejeitou, mas a natureza não estava. Por isso, vai ter de aprender a se desapegar. Numa visão tradicional, dizemos que um casal será feliz para sempre. Num olhar mais desiludido e moderno, estão condenados a discussões e ao divórcio precoce.
Schopenhauer convida-nos a assumir um ponto de vista diferente, e considerar que a felicidade não está em questão. Ele não queria nos deixar deprimido, mas nos libertar das expectativas que pode acabar gerando frustrações. Às vezes, os pensadores mais pessimistas, paradoxalmente, podem ser os que nos oferecem mais consolo!

9 comentários:

  1. Olha, sinceramente, eu acho que as pessoas são egoístas demais para amar. Elas só pensam em si mesmas, só ligam para as suas vidas. O que existe hoje em dia é interesse e não amor. O ser humano se diz capaz de amar, mas eles nem sabem o que é isso. O que existe entre um homem e uma mulher é atração. As pessoas não sabem amar ninguém além delas mesmas.

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    1. Você faz uma análise bem Freudiana..Para Freud, o unico sentimento inato no ser humano é o egoísmo..

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  2. um pensamento perfeito de Artur da Távola sobre o amor.

    "As pessoas amam bem mais a expectativa do amor possível, que o amor propriamente dito. Daí a intensidade dos impulsos bloqueados, os que estão impedidos de expansão e movimento na direção do objeto amado. Os "grandes amores" da literatura são grandes, não por serem amores, mas por serem impossíveis. Já os grandes amores da vida real só quem sente é que sabe. A impossibilidade de dimensionar um impulso afetivo carrega de energia a fantasia. E esta se encarrega de dar dimensão ao que o exercício da relação, talvez, tirasse. Na paixão impossível só estão as projeções do que idealizamos, pretendemos ou não conseguimos viver em nosso cotidiano. Daí ser fácil entender sua força, sua obsessiva presença na cabeça dos enamorados. É por isso, aliás, que só é musa quem é inatingível. Case-se com a sua musa e acordará com uma jararaca... Case-se com quem ama e será feliz. Quer se ver livre de uma paixão colossal? Vá viver com a pessoa objeto da paixão (observem, por favor, que não estou usando a palavra amor). Aliás, já está nos clássicos e, mesmo, antes destes, nos antigos: "A conquista enobrece e a posse avilta". Ou, como dizia Goethe: "Nas batalhas da paixão, ganha aquele que foge". Quantas vezes as relações humanas terminam ou se interrompem sem terem esgotado o potencial de possibilidades adivinhadas, intuídas, sentidas. Aí, o que não se esgotou clama por vir à tona e, muitas vezes, ameaça ocupar (e às vezes ocupa, efetivamente) todo o "ego". Não é por outra razão que o apaixonado é o maior dos egoístas. Ao dedicar tudo ao objeto da paixão, está é alimentando a própria necessidade, seja de sofrimento, de idealização, de felicidade ou fantasia. Entupido de impossibilidades, ele clama. E a isso muitos chamam amor. Mas amor é coisa muito diversa... Amor não clama nem reclama: amor dá.
    Artur da Távola

    Nós não devemos levar a vida tão a sério, ria, brinque se apaixone sem medo. Curta cada momento sem criar expectativas. Para mim essa é a frase para sem prevenir de todo o sofrimento.

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    1. Sim, muito lindo e concordo plenamente com ele. As pessoas criam muitas expectativas e acabam sofrendo, não aproveitam o momento, acham que só tendo a outra pessoa do lado elas podem ser felizes, mesmo que não sejam aquilo que elas procuram.
      Condicionamos o amor às nossas necessidades neuróticas e acabamos com ele. A insatisfação, o vazio interior se transformam na busca contínua de novos relacionamentos, cujos resultados frustrantes se repetirão. O grande problema do ser humano é esperar algum tipo de retribuição. Isso gera expectativa e frustração. O outro é como é, não é um deus grego, um príncipe encantado, um herói. É, assim como você, cheio de falhas. E nunca, nunca vai ser aquele cara montado no cavalo branco. Não existe relação perfeita e sem altos e baixos. As pessoas também têm a triste mania de jogar no outro suas inseguranças, medos e frustrações. O outro não tem a menor culpa dos seus problemas. Aliás, seus problemas é você que precisa resolver. Ninguém vai fazer nada por você, não. O máximo que vai acontecer é ter um apoio, um colo, um ombro para encostar a cabeça quando tudo estiver desmoronando. Qualquer relação precisa ser equilibrada. O egoísmo precisa ser deixado de lado para você, de fato, se entregar. Muitas vezes a gente agrada a outra pessoa só pra ver um sorriso no rosto dela. Às vezes, a gente não curte ou não está a fim de fazer algo, mas faz porque é importante para o outro. Acho que as pessoas precisam parar de idealizar um mundo que nunca vai existir. E devem olhar para o que têm ao lado. A admiração vem antes mesmo do amor. É impossível você amar sem admirar a pessoa. Se existe admiração, carinho, respeito, tesão, cumplicidade e amor, bingo, você tirou a sorte grande. Por isso, deve parar de tentar achar pelo em ovo e tratar de ser feliz. Amor é mais que sentimento, é um amadurecimento.


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  3. Eu também acho que o que existe hoje é interesse , o AMAR deixou de existir há muito tempo. A mulher do século XXI mudou , essa é a grande verdade , ela se tornou mais independente , e na minha opinião isso fez com que os relacionamentos de hoje não sejam mais duradouros , exatamente por não ter mais essa inter-dependência do marido.

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    1. A pérgunta que eu lhe faço é a seguinte Leandro: Será que esse amor incondicional de uma pessoa pela outra realmente existe???


      ABS...

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    2. O amor como sentimento é incondicional por essência.Ele nasce a despeito de qualquer condição humanamente imperfeita, porque se trata de um sentimento soberano e perfeito.
      A ação de amar é que não é incondicional. Posso amar um filho, por exemplo, e será incondicional. Mas, a expressão deste amor é que pode depender do relacionamento, amor praticado exige o compromisso pessoal de cada um a fim de facilitar a evolução do outro e de si mesmo.
      O amor incondicional pode acontecer, quando as relações afetivas são construídas e estabelecidas pela verdade e realidade.

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  4. O AMAR não deixou de existir, esta mais vivo do que nunca. O amor não é apenas dois corações entrelaçados pela paixão, Ele esta presente em qualquer lugar. Estamos tão preocupados em encontrar algo que nos preencha que passamos e não enxergamos o nosso redor.
    O relacionamentos não são mais duradouro por falta de maturidade tanto da mulher quanto do homem, em aceitar o outro como ele é.

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