segunda-feira, 25 de novembro de 2013

educação moderna

A ESCOLA MODERNA E O EDUCADOR NECESSÁRIO
Por Alacir Arruda

Em 1995,  na França,  um grupo de intelectuais convidados pela ONU se reuniram para elaborar as características da escola e do aluno do século XXI.  Esse documento, denominado: “Educação um tesouro a descobrir”,   além de conter  os pilares daquilo que chamamos de  educação moderna, orienta as escolas de como encarar  esse processo de transição.  Pena que 99% delas não conhecem esse documento e  continuam  no período medieval.  A espinha dorsal de qualquer escola é seu corpo docente que, nesse contexto, deve estar    preparado  para cumprir suas tarefas. Esse educador necessário deve ter algumas características fundamentais.
Em primeiro lugar, ele deve estar comprometido politicamente com a sua tarefa de educador. Esse comprometimento exige que as pessoas tenham consciência da responsabilidade que lhes foi confiada. Não se é educador como se é operário de uma fábrica de automóveis.
O educador não pode julgar que a atividade da educação funciona do mesmo modo que a de um trabalhador de fábrica. Não há como o educador começar a ser educador na hora em que bate o ponto e deixar de sê-lo na hora em que o relógio indica o fim do expediente.
Do educador se exige uma constante ocupação com o ato educativo. Ele tem de ser. É uma questão de ser e não uma questão de situação. Exige-se, portanto, um crescimento dessa consciência política, que se obtém no próprio processo político do trabalho. Essa consciência política não se obtém através de uma verificação da tendência psicológica de alguém ou de um teste psicológico para avalaiar a vocação. Mesmo porque as vocações também são históricas e se dão na história.
À medida que o educador, enquanto educador, compreende a importância social do seu trabalho, a dimensão transformadora da sua ação, a importância social, cultural, coletiva e política da sua tarefa, o seu compromisso cresce.
Ninguém é comprometido, politicamente, de uma vez por todas. O compromisso é como um ato de amor, que tem de se renovar diariamente. Na realidade, o ato de educação exige necessariamente uma espécie de renovação diária do compromisso com o ato educativo.
Em segundo lugar, o professor comprometido politicamente tem de ser tecnicamente competente. A competência técnica se renova da mesma forma que o compromisso político. Nenhum professor está, em algum momento, adequadamente preparado.
Há de se lembrar que a preparação técnica, a ampliação do conhecimento e a atualização exigem um exercício freqüente e diário por parte do educador e do sistema no qual ele está inserido. Mas, necessariamente, exigem vontade, desejo, carência do profissional professor.
Aquele educador que se sente comprometido politicamente já está com a vontade direcionada para a sua preparação técnica. Não há como preparar alguém para o exercício da função educativa se ele não se encontra, interiormente, comprometido com essa função.
É por isso que a questão do compromisso político é fundamental até para que se possa desenvolver a competência técnica.
Não podemos ter a ilusão de que os professores a partir de um determinado momento estão preparados. Nenhum professor está preparado porque cursou a faculdade ou a universidade, ou porque leu cinco, dez, cinqüenta ou duzentos livros, ouviu um determinado número de conferências, participou de uma determinada quantidade de cursos. Estes são instrumentos que podem auxiliar o processo de sua elevação técnica. Em cada momento, temos educadores em níveis diferenciados de preparação. O processo de preparação dos professores, tecnicamente, tem de considerar o ponto de partida em que se encontra esse professor para que se possa elevar sua competência técnica.
Em terceiro lugar, se a escola se pretende democrática, o educador necessário para ela deve assumir, democraticamente, a sua tarefa educativa. Como conseqüência, ele deve compreender a importância coletiva do seu trabalho. Se não compreende, ou é incapaz de compreender, que sua tarefa educativa não se encerra no âmbito de sua disciplina, no período de sua aula e na sua forma de avaliação, ele não vai concorrer para o exercício e para a formação de uma escola e de uma educação democráticas.
Há de se advertir aos educandos para compreenderem a importância do trabalho democrático e, portanto, solidário e cooperativo no interior da escola e levá-los a se despirem do individualismo e do egoísmo.
A atividade pedagógica não é solitária: ela é uma atividade solidária. É a totalidade dos atos pedagógicos no interior da escola que concorre para o seu crescimento e a formação do educador e não a totalidade dos atos de qualquer professor, individualmente considerado.
Por último, a escola necessária exige, além de um educador com perfil diferente para o trabalho escolar, também um currículo e uma organização administrativa necessários.
- O CURRÌCULO NECESSÁRIO
O que a escola faz, de maneira essencial e fundamental, é aquilo que circula no seu interior, como sua atividade principal, como sua matéria-prima fundamental: o “currículo”. O currículo é o instrumento através do qual a escola vai preparar o indivíduo para o exercício da cidadania. Aqui, também, com respeito ao currículo, temos de pensar no que é permanente e no que é principal e no que secundário, no que é secundário, no que é central e no que é periférico. Dentro dele há uma essencialidade que, se não for cumprida, descaracteriza a escola, comprometendo a função de preparação para a cidadania.
Lembremos que a escola prepara para a cidadania através da prática – porque não se ensina alguém somente através de discursos. Ensina-se através do discurso e da prática. Pode-se fazer um discurso democrático na escola: se a prática da escola é autoritária, se ensinará muito mais o comportamento autoritário do que a prática democrática. A escola, para ensinar, precisa fazer o discurso da democracia e executá-la; tem, inclusive, de demonstrar as dificuldades de se praticá-la, pois faz parte do discurso da democracia dizer que praticá-la é difícil, para que não se pense que praticar a democracia é a coisa mais fácil do mundo. Faz parte do discurso da democracia demonstrar como, na prática, é difícil praticá-la e mesmo entendê-la. Mesmo porque não temos nenhum exemplo histórico no mundo ou na história da civilização do que constitui a sociedade democrática. Temos instituições, homens, ações permeadas do espírito democrático – mas a democracia, em seu estado puro, não existe. Então, a escola ensina através da atividade curricular e através de sua prática.
Dissemos que é fundamental saber qual é a essencialidade do currículo. Na preparação para a cidadania, há duas questões que se colocam essenciais. Primeiro, compreender o que se passa no mundo onde estamos vivendo. Segundo, compreender as formas de agir e atuar neste mundo.
É discurso bastante universal dizer que a escola precisa preparar o cidadão crítico. O cidadão crítico não é apenas aquele que é capaz de fazer a crítica da consciência. Ele tem que dominar, necessariamente, o conhecimento daquilo que vai criticar. O cidadão é alguém capaz de distinguir as coisas na sociedade – o verbo grego kritein, de onde vem a palavra CRÍTICA, significa julgar, distinguir, analisar, separar. Ao fazer a crítica, tenho de ser capaz de fazer distinção, julgamento, separação das coisas. Só posso fazer isso se dominar o conhecimento sobre as coisas, sobre a realidade da qual vou fazer a crítica.


Um comentário:

  1. Alacir, sugiro que vc monte um curso de capacitação voltado aos gestores das escolas de Cuiabá, como aqueles que vc ministrava em SP e RJ onde tive a oportunidade de assistir algumas aulas. O que acha? Eu participaria -------Miriam

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