PREFIRO
A INFELICIDADE, EMBORA LOUCO, QUE UMA FELICIDADE CONFORMISTA..
Por Alacir Arruda
“Atendendo a pedidos, resolvi publicar novamente esse artigo escrito em outubro ultimo. Fiz apenas uma readaptação
no nome. Eu, apesar de suspeito, adoro ele..”
Sempre
questionei as pessoas que afirmam terem encontrado um caminho para a
felicidade plena, como se essa felicidade fosse uma joia rara destinada a poucos.
Aliás sempre achei esse lance de felicidade um embuste do nosso Ego. Porém,
quando toco nesse assunto, muita gente me olha com aquela cara, do que é que você está falando? Você
está maluco?...Nossa sociedade é viciada em
felicidade. Aprendemos desde cedo que nossas decisões na vida devem ser
tomadas baseadas no potencial que as escolhas a nossa frente possuem de nos
proporcionar uma vida feliz. Com quem vou me casar? Vou ter filhos? Que
profissão vai me realizar mais? E por aí vai. A cada passo que damos,
supostamente, devemos fazer a matemática da felicidade em nossa mente e
analisar qual opção tem maior potencial. Ficamos furiosos quando depois de um
tempo descobrimos que a escolha que fizemos não era a que trazia felicidade,
mas sim a outra que abrimos mão. Tudo isso culpa da nossa moral
Judaico-cristã ocidental, diria Nietzsche.
Esse
raciocínio está tão impregnado em nossas mentes que temos muita dificuldade em
percebermos toda a sua armadilha e decepção. A reação natural quando toco nesse
assunto é o questionamento contrário: então se não vamos procurar a felicidade, vamos fazer o que? Procurar a
infelicidade? Aceitar uma vida que não queremos? Qual o propósito disso?
Esse
raciocínio provém da noção de que se não buscarmos a felicidade na vida, então
nada nos sobra. Bom, vamos pensar um pouquinho aqui com lógica, ok?!
O que é
realmente essa tal de felicidade? Não de uma forma concreta, mas o que as
pessoas estão buscando quando elas medem alternativas tentando descobrir qual
delas as fará felizes?
Conforto,
ausência de problemas e desafios, alegria, tranqüilidade, paz… Humm… parece
ótimo, não? Do ponto de vista social, o final feliz é esse, não é mesmo? Mas
você já parou para pensar que não há final algum? Não há final feliz, nem
triste, não há final até que sua própria vida acabe! Nossa vida não é um filme
que acaba depois que alcançamos nossos objetivos. Então porque tanta gente
persegue “sonhos” como se esses carregassem seus finais felizes?
Mas vamos
um pouco mais fundo… que vidinha mais medíocre essa feliz, hein? Nenhum
problema, nenhum desafio, só alegria, só conforto, só paz, só tranqüilidade… O
quanto demoraria para você se sentir infeliz com toda essa felicidade?!
Mas Alacir, você está dizendo então que deveríamos ser
infelizes?
É aí que
muita gente não entende exatamente do que é que estou falando…
Felicidade
ou infelicidade são percepções do ego, inclusive, já falei sobre isso
em artigos anteriores, mas percebi pelos comentários que muita gente não
entendeu direito o que eu estava falando…
Nosso lado
egoísta, aquele que tem vontade, que quer as coisas, é que quer ser feliz.
Nosso ego não gosta de nada que atrapalhe seu prazer. Se dependesse do nosso
ego, ficaríamos em casa o dia inteiro sentados na frente da TV, comendo pipoca
e pizza e só levantaríamos para fazer coisas que também são prazerosas. Jamais
aceitaríamos qualquer situação que nos proporcionasse qualquer tipo de
desconforto… a não ser que visualizássemos um benefício futuro resultante do
sacrifício de abrir mão do próprio prazer.
Como a
maioria das pessoas não pode se dar ao luxo de só fazer o que quer de acordo
com suas próprias vontades, elas desgostosamente fazem os sacrifícios que a
vida lhes impõe, mas seu “sonho” é voltar à condição de prazer máximo. É por
isso que buscam a felicidade com tanto ardor. O que elas querem na verdade é
eliminar todas as atividades que a vida lhes impõe para que elas possam então
desfrutar de tudo de bom que a vida tem a oferecer.
Muitas
pessoas erroneamente interpretam a filosofia carpe diem dessa forma. O motivo é
que simplesmente não entendem o que poderia haver na vida além de se buscar a
própria felicidade. Esse raciocínio, como eu mencionei, é resultado de uma vida
inteira tendo essa idéia martelada na cabeça, assistindo filmes de Hollywood
que mostram exatamente esse conceito – o filme sempre acaba quando o herói
finalmente conquista seus objetivos e então supõe-se que depois do final da
estória, ele viveu feliz para sempre.
A minha
percepção sobre esse assunto é altamente influenciada pelas diversas teorias
orientais que abominam o ego e suas vontades e também pela ocidental
Esse
meu background me leva a crer que não viemos a esse mundo para curtir a vida e
sermos felizes, mas sim para evoluir e ajudarmos uns aos outros. Dentro dessa
perspectiva, a felicidade parece ser uma grande perda de tempo, um poço sem
fundo de mediocridade.
Acredito
que temos uma programação de vida, uma missão (ou várias!) e que a realização
desse propósito não envolve conforto, alegria ou tranqüilidade. Quem sente
essas emoções é o ego, justamente a parte de nós que não está a fim de cumprir
missão alguma, está a fim de ficar quieto, sem ser perturbado ou melhor, só
curtir a vida no maior conforto. O ego não gosta de nada difícil,
evidentemente! “Difícil” envolve desconforto, desafios e muitas vezes
sacrifício sem benefício do final das contas. O ego não quer saber desse tipo
de coisa, o ego só topa o sacrifício se ele estiver de olho no benefício que
vai usufruir quando terminar.
O próprio
conceito de evolução carrega inerente consigo uma interpretação de benefício,
porém, muitos de nós, na condição de seres humanos sem visão de conjunto
alguma, não conseguimos ver os benefícios reais. Nosso ego, por sua vez, não
topa desafio algum se não for para ganhar nada em troca de todo o sacrifício. É
por isso que muita gente simplesmente não entende porque precisamos abrir mão da
felicidade. Nossa sociedade está tão impregnada com a idéia de que se não há
benefício, não vale à pena, que muita gente não consegue deixar cair a ficha.
Não é uma
questão de ser infeliz, não é isso que estou defendendo! A minha posição é que
se preocupar com felicidade ou infelicidade é uma atividade puramente egóica. O
que defendo é não se importar com felicidade ou com infelicidade, simplesmente
fazer o que tem que ser feito e ponto final. É difícil? Ok. Vou ter que fazer
sacrifícios sem benefício algum? Ok. Viver seu propósito de vida requer esse
tipo de postura.
Não
acredito que a felicidade seja o propósito de ninguém! Se fosse pra ser fácil,
você não estaria nesse mundo! Você já pensou nisso?
O negócio
então é aceitar a dificuldade sem reclamar, sem ficar dizendo com aquela voz
chorona “mas não é fácil!”… (por que deveria ser?)
Ao aceitar
o que vier, encarar as dificuldades, vencer os desafios sem fugir deles, sem
ficar tentando eliminá-los porque você quer ser feliz, porque você quer sombra
e água fresca, ao ter essa postura, você encontra sua força interior. É só a
partir daí que você pode realmente viver seu propósito de vida!
AMEI ALACIR...QUE LINDO. PARABÉNS. NUNCA IMAGINEI QUE UM HOMEM DE 1,90, POR VEZES "BRUTO" COMO VC PUDESSE TER TANTA SENSIBILIDADE NO FALAR. JA TE ADMIRAVA EM SALA DE AULA AGORA MUITO MAIS. TENTEI BUSCAR ESSA FELICIDADE "BOBA" POR 15 ANOS, FINGI DE VIVER E O QUE GANHEI? UM BELO PAR DE CHIFRES.ADORO VC. (CLAUDIA ALMEIDA)
ResponderExcluirFico imaginando quem opta por ser feliz a qualquer custo. Lembro-me de uma aula sua sobre Schopenhauer, cuja as ideias pessimistas na verdade são um alerta aos desavisados.. Como você disse na aula, para ele: "Viver é sofrer". Alegro-me por ser sua aluna. Nunca ninguém conseguiu me passar filosofia como você passa, nunca perdi uma aula sua e sinto ser apenas na segunda, pois com vc, encararia filosofia de segunda a sexta.
ResponderExcluirObrigado meninas pela parte que me toca.
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