terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

ATÉ QUANDO?

Alacir Arruda

Quem é do Mato Grosso e acompanha meu Blog já deve ter percebido que nunca comento questões locais em meus artigos, procuro ser genérico nas minhas avaliações e evito tocar em assuntos regionais. Mas existe um ponto fora da curva que tem me incomodado alem do normal, que é a violência desenfreada em Cuiabá e Várzea Grande. Nesta segunda feira, 24 de fevereiro de 2014, uma moça de 19 anos foi assassinada em seu local de trabalho com um tiro na cabeça em pleno centro de Cuiabá de forma bárbara.
Resolvi então quantificar apenas os últimos 7 dias. No final de semana de 15 e 16 de fevereiro e 22 e 23 foram mais de 15 assassinatos, media de dois assassinatos por dia num universo de 900 mil pessoas que compõe a região metropolitana de Cuiabá. Em 2012 foi lançado o primeiro ‘Estudo Global sobre Homicídios’ lançado pelo Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crimes ( UNODC). Esse documento mostrou que há 22,7 homicídios para cada 100 mil habitantes no Brasil. Esse índice só é inferior ao da Venezuela (49 por 100 mil) e ao da Colômbia (33,4). Considerando o ranking mundial, o Brasil está em 26° lugar. A situação mais grave de acordo com o índice de mortes para 100 mil habitantes é de Honduras: 82,1. Segundo números absolutos, porém, Brasil registrou a maior quantidade de homicídios do mundo: foram 43.909 vítimas em 2009 (dados mais atualizados);  seguido pela Índia
Se levarmos em conta apenas os dados relativos em Cuiabá chegaremos a um número preocupante, mais de 66,6 homicídios para grupos de 100 mil pessoas, quase o dobro do pais mais violento da America do Sul, Venezuela. Usando ainda como parâmetro os dados da ONU o numero de mortos per capta em Cuiabá e Várzea Grande supera o de países em Guerra. Essa pesquisa ainda conclui que  hoje é mais seguro você caminhar por Damasco, capital da Síria, Cabul, Capital do Afeganistão e Bagdá, capital do Iraque ( todos países em Guerra) que em Cuiabá. Isso não pode ser encarado pela população  como “normal”.
Mas o que justifica esses dados alarmantes? Porque somos tão violentos? Numa tentativa de sistematizar a grande variedade e quantidade de causas da violência apontados pelos dados, procurei classificar a violência em função de como o ambiente em que elas se encontram estão relacionados aos que praticam a violência, num modelo que guarda muita semelhança com a proposta de Bronfenbrenner (1996). Dessa forma, foram estabelecidas duas grandes categorias: causas contextuais e causas pessoais. As causas contextuais foram divididas em duas subcategorias, de acordo com sua maior ou menor proximidade em relação aos agressores: causas contextuais distais e contextuais proximais.
As causas contextuais distais mais freqüentemente citadas são as produzidas pela conjuntura econômica, social, política e cultural, a exemplo de pobreza, miséria, fome, desemprego, discriminação e marginalização social, violação de direitos humanos, má distribuição de rendas, exclusão social, hegemonia de valores individualistas, impunidade de criminosos, contraventores e corruptos, cultura da violência, narcotráfico, autoritarismo, abandono de crianças. Sua presença é marcante no sentido de que moldam todo um modo de ser e de funcionar de uma sociedade.
Causas contextuais proximais seriam eventos relacionados à violência que estão presentes no ambiente e com os quais os indivíduos que praticam a violência têm contato direto. Modelos de violência em casa, na rua e nos meios de comunicação, desorganização ou desestruturação familiar, uso predominante de punição para promover a disciplina em diversas instituições sociais (família, escola, religião, Febem, etc) são exemplos encontrados em vários trabalhos sobre violência.
As causas pessoais, próprias dos indivíduos que praticam a violência, podem ser exemplificadas por consumo de drogas e álcool, desequilíbrio emocional, questões passionais, estresse, temperamento, natureza ou índole da pessoa, auto-estima muito alta (Loeber et al., 1997) ou baixa (Emery et al., 1998) etc.
Cuiabá e Várzea Grande, em função do Mundial de 2014, vêm passando por um processo de transformação social e econômica jamais visto na história, existe um fluxo muito grande de pessoas de outros Estados que se dirigem para essa região em busca de oportunidades e isso pode ser um dos fatores que explicam esse aumento da violência. O que mais preocupa a população porem, é a inércia por parte do poder publico diante desse quadro. Não vejo nenhum esforço por parte daqueles que recebem para nos garantir um mínimo de segurança no sentido de reverter esse quadro. Alguns chegam a encarar essa situação com naturalidade.
Todos sabemos que a violência possui inúmeras causas e a sua diminuição esta relacionada a uma serie se ações afirmativas porém, faço um Alerta! "Todas as vezes que o povo se calou diante da inoperância do poder publico, o caos se instalou."Ja passou da hora da população cuiabana e várzea-grandense se mobilizar no sentido de cobrar ações efetivas dos nossos governantes sob o risco de sermos considerados coniventes com essa situação.

Gabriel o Pensador: ATE QUANDO?







8 comentários:

  1. A violência vai imperando e tornando a sociedade refém de um sistema que esbarra nos erros, nas omissões, na falta de zelo e na falta de vontade política para que possamos estirpar de vez esse verdadeiro câncer do meio da população.O Estado tem falhado no controle e repressão da violência e a prevenção tem advindo da própria sociedade organizada. Nesse cenário, a impunidade corrói a estrutura do poder constituído, taxando-o de incapaz. A população sem perspectiva cede a qualquer proposta aparentemente de fácil aplicabilidade e que propicie bons resultados, como a pena de morte e a prisão perpétua. Nós aprendemos a controlar a mortalidade das baleias, tartarugas e outros animais em extinção, mas ainda não conseguimos minorar as consequências advindas dos altos índices de homicídios, muitos dos quais insolúveis, aumentando a sensação de impunidade. E meio a isto vivemos prisioneiros em nossos lares, acuados, temerosos, passamos a construir verdadeiras fortalezas em busca da nossa proteção pessoal. Estamos literalmente "atras das grades" dentro de casa.

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    1. Parabens Josi...Enquanto encararmos essa agressividade social como algo normal sofreremos a ação da nossa própria omissão

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    2. Professor observar a violência como resultante do descaso social, não é um resultado de uma desinformatsiya pura? Acaba no final que estamos pedindo EXPLICITAMENTE pro governo ser mais repressivo conosco, implantando um vírus que hoje se vê evoluído na Venezuela , Coreia do norte. A opressão que evolui a todas classes não só ao bandido. Seria esse o objetivo do estado?

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  2. Professor, eu assisto os programas policiais locais e vejo uma semelhança em relação às opiniões dos apresentadores. Todo eles falam que deveriam ser mudadas as Leis deste país, porque ,segundo eles, essas Leis protegem os criminosos. Qual a sua opinião a respeito disso? Acha que realmente as Leis são o falhas?

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    1. Leandro esses programas policiais sao sensacionalistas e exploram a violência com um discurso populista. Na verdade não precisa mudar absolutamente nada com relação às Leis em nosso pais, só é preciso aplica-las efetivamente.

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  3. Caro Alacir

    A questão da segurança pública me parece ser um paradoxo. Em São Paulo chegamos a menos de 10 homicídios por 100.000 habitantes, valor este definido como aceitável pela ONU. Entretanto, é preciso saber como os dados são compilados, pois cada estado possui uma metodologia própria e que favorece apenas as questões políticas. Outrossim, o que significa sentir-se segura? é pessoal,

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    1. Caro Cel Jefferson, concordo com vc, a questão da segurança publica e paradoxal, o sr. sabe bem disso trabalhou nela por 32 anos, sobretudo em um pais onde todas as decisões que deveriam ser técnicas na verdade são politicas. Um abraço e valeu

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  4. Interessante, meu caro amigo. Em uma de nossas conversar tratamos da questão da participação do cidadão dentro do processo de construção das políticas públicas. O mesmo deveria ocorrer com a segurança pública, mormente que esta participação quase que é "obrigatória" em face do texto constitucional. Acredito que o cidadão não pode se limitar a cobrar uma postura governamental, mas deve ele, como dizem os caipiras paulistas, "arregaçar as mangas" e participar da construção desta nova política. Não podemos, em hipótese alguma, aceitar a venda de pacotes de segurança lacrados e que não permitem ao cidadão optar entre as várias alternativas oferecidas. A política de segurança brasileira se reveste em conceitos travados e que não permitem a participação popular. Isto sim é um erro que deve ser corrigido.

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