PORQUE ME MANTENHO AGNÓSTICO...
Alacir Arruda
Uma curiosidade que tenho certeza paira pela cabeça de meus alunos é quanto às minhas crenças. Tenho certeza, até pela incisão do meu discurso contrário à religião, que muitos pensam que sou Ateu, ledo engano, ja disse por varias vezes que não admiro os Ateus por manterem um discurso tão radical, quanto a inexistência de Deus, que acabam por se nivelar aos religiosos extremistas que defendem Deus. Portanto me mantenho agnóstico, que é uma especie de ateísmo moderado. Onde reside essa discussão? Como ser humano que somos, herdamos a maior parte de
nossas opiniões. Somos herdeiros de hábitos e costumes mentais. Nossas crenças,
assim como o estilo de nossas roupas, dependem do local em que nascemos. Somos moldados
e formados pelo ambiente que nos circunda. O ambiente é um escultor – um
pintor.
Se tivéssemos nascido em Constantinopla, (antiga capita do
império romano no oriente atual Istambul) a maioria de nós diria: “Não há qualquer Deus
senão Alá, e Maomé é seu profeta”. Se nossos pais vivessem nas margens do
Ganges, seríamos adoradores de Shiva, sequiosos pelo céu de Nirvana.
Por via de regra, os filhos amam seus pais, acreditam no
que eles dizem e orgulham-se muito de dizer que a religião de seus pais lhes é
satisfatória.
Em grande parte os indivíduos amam a paz; não gostam de
desavenças com seus vizinhos; gostam de companhia; são sociais; gostam de
perseguir seus objetivos acompanhados; odeiam a solidão.
Os escoceses são calvinistas porque seus pais eram. Os
irlandeses são católicos porque seus pais eram. Os ingleses são episcopais
porque seus pais eram. Os americanos são divididos em centenas de seitas porque
seus pais eram. Esta é uma regra geral, com muitas exceções. Os filhos às vezes
são superiores aos seus pais, modificam suas idéias, seus costumes, e chegam a
conclusões diferentes. Mas normalmente a divergência surge de modo tão
gradativo que mal se percebe, sendo comum insistirem que estão seguindo os
passos dos pais.
Historiadores cristãos afirmam que a religião de uma nação
algumas vezes foi repentinamente mudada, e milhões de pagãos foram
transformados em cristãos sob o comando de um rei. Os filósofos não concordam
com esses historiadores. Nomes foram alterados, altares foram destruídos, mas
as opiniões, os costumes e as crenças permaneceram as mesmas. Um pagão,
subjugado pela espada de um cristão, provavelmente mudaria sua posição
religiosa; um cristão, com uma cimitarra em seu pescoço, espontaneamente se
tornaria um maometano. Na realidade, por dentro, ambos continuam sendo
exatamente o que eram antes.
A crença não está sujeita à vontade. Os homens pensam como
precisam pensar. Crianças não crêem, nem podem crer, exatamente no que lhes foi
ensinado. Elas não são totalmente idênticas aos seus pais. Elas diferem em
temperamento, em experiência, em capacidade, em atmosfera. Apesar de
imperceptível, há uma mudança contínua. Há desenvolvimento, há crescimento
consciente e inconsciente; comparando-se longos períodos de tempo, percebe-se
que o velho foi quase totalmente abandonado, quase totalmente sobreposto pelo novo.
O homem não é capaz de permanecer imutável. A mente não pode ser ancorada. Se
não avançarmos, vamos retroceder. Se não crescermos, vamos definhar. Se não nos
desenvolvermos, vamos atrofiar.
Como a maioria de vocês, fui criado entre pessoas que
sabiam – que estavam convictas. Não tinham motivos para questionar ou
investigar. Não tinham dúvidas. Sabiam-se possuidoras da verdade. Em suas
crenças não havia suposições, não havia talvez. Elas tinham a revelação de
Deus. Conheciam o início de tudo. Sabiam que Deus havia começado a criação numa
segunda, quatro mil e quatro anos antes de Cristo. Sabiam que na eternidade
anterior àquela manhã ele não havia feito nada. Sabiam que ele levou seis dias
para criar a Terra – todas as plantas, todos os animais, toda a vida e todos os
globos que giram no espaço. Sabiam exatamente o que havia feito em cada dia e
quando descansou. Sabiam qual era a origem, a causa do mal, de todos os crimes,
de todas doenças e da morte.
Conheciam não apenas o começo, mas também o fim. Sabiam
que a vida tinha dois caminhos, um largo e um estreito. Sabiam que o caminho
estreito, cheio de espinhos e urtigas, infestado de víboras, molhado de
lágrimas, manchado por pés sangrentos, conduzia ao céu; e que o caminho largo,
plano, ladeado por frutas e flores, repleto de riso, música e felicidade
conduzia diretamente ao inferno. Sabiam que Deus estava fazendo todo o possível
para escolhessem o caminho estreito, e o Demônio usando todas artimanhas para
que escolhessem o caminho largo.
Sabiam que havia uma batalha perpétua entre os grandes
Poderes do bem e do mal pela posse das almas humanas. Sabiam que, muitos
séculos atrás, Deus deixou seu trono e veio a este pobre mundo na forma de um
bebê – que morreu pelos homens – a fim de salvar uns poucos. Também sabiam que
o coração humano encontrava-se totalmente depravado, que o homem naturalmente
amava o mal e odiava a Deus com toda sua força.
Ao mesmo tempo, sabiam que Deus havia criado o homem à sua
imagem e semelhança, e que estava perfeitamente satisfeito com sua obra. Também
sabiam que o homem havia sido corrompido pelo Demônio, que com embustes e
mentiras enganou o primeiro ser humano. Sabiam que, como conseqüência disso,
Deus amaldiçoou o homem e a mulher; o homem com o trabalho, a mulher com a
escravidão e a dor, e ambos com a morte; e que também amaldiçoou a própria
Terra com espinhos e abrolhos. Tinham conhecimento de todas essas coisas
sagradas. Também sabiam tudo que Deus havia feito para purificar e elevar a
humanidade. Sabiam tudo sobre o dilúvio; sabiam que Deus – com exceção de Noé e
sua família – havia afogado todos os seus filhos – tanto os jovens quanto os
velhos, tanto os bebês quanto os patriarcas, tanto os homens quanto as
mulheres, tanto as mães amorosas quando as crianças felizes –, pois sua
misericórdia dura para sempre. Também sabiam que havia afogado todas as bestas
e aves – tudo que caminha, rasteja ou voa –, pois seu amor se estende por todas
as suas criaturas. Sabiam que Deus, no intuito de civilizar seus filhos,
devorou alguns com terremotos, destruiu outros com tempestades de fogo, matou
alguns com raios, milhões com fome, com pestilência, e sacrificou inúmeros
milhares nos campos de batalha. Sabiam que era necessário crer em tais coisas e
amar a Deus. Sabiam que a salvação só poderia vir através da fé e do
purificante sangue de Jesus Cristo.
Todos que duvidassem ou contestassem estariam perdidos.
Viver uma vida moral e honesta – honrar seus contratos, cuidar de sua esposa e
filhos, construir um lar feliz, ser um bom cidadão, um patriota, um homem justo
e reflexivo – era simplesmente um modo respeitável de ser condenado ao inferno.
Sou um admirador inconteste de Jose Saramago, proeminente
escritor português que recebeu o premio Nobel de Literatura em 1998, alias o único
escritor de língua portuguesa a receber esse premio. Em 2008 ele participou de uma sabatina organizada pelo Jornal Folha de São
Paulo cuja a parte pais interessante que achei, esta no vídeo abaixo..
ENTREVISTA DO ESCRITOR PORTUGUÊS JOSE SARAMAGO A FOLHA DE SÃO PAULO
Professor você pode explicar em que acredita um agnóstico? Abraços
ResponderExcluirAgnosticismo é a crença de que a existência de Deus é impossível de ser conhecida ou provada. A palavra “agnóstico” significa essencialmente “sem conhecimento”. Agnosticismo é uma forma mais intelectualmente honesta do ateísmo. O ateísmo afirma que Deus não existe – uma posição que não pode ser provada. O agnosticismo argumenta que a existência de Deus não pode ser provada ou deixar de ser provada – que é impossível saber se Deus existe. Neste conceito, o agnosticismo está certo. A existência de Deus não pode ser provada ou deixar de ser provada empiricamente. Um abraço
ExcluirMuito boa sua explicação e o vídeo perfeito,tudo a ver com as nossas aulas. Prof achei essa música parecida com o que você disse na aula ontem:....dizem que sou louco por pensar assim...(balada do louco), lembra dela?Gio
ResponderExcluirOla Gil, bom..nao tenho a pretensão de mudar a cabeça de absolutamente ninguém, mas defendo minhas convicções filosóficas sem com isso ferir o próximo. Quanto a musica Balada de Louco dos Mutantes, sempre admirei esse conjunto e acho ela apropriada a situação. Uma abraço obrigado por entrar no Blog
ExcluirPorque se manter agnóstico ? Já pensou em não ser pedra de tropeço no caminho da fé, alheia ?
ExcluirComo você sabe, vivemos num mundo onde tem sido cada vez mais comum encontrar pessoas que querem compromisso algum. Muitas delas estão mais preocupadas consigo mesmas e com seus próprios interesses. Basta pensarmos um pouco ou darmos uma volta por aí e veremos gente assim por todo lado. Mas buscam um "Deus", como preferem dizer; quando lhes convém e, na maioria das vezes nos momentos em que estão sofrendo, vivendo desafios sérios ou passando alguma dificuldade. Apenas não querem ter compromisso com nada, muito menos com a igreja.
Uma vez me deparei com uma frase que me tocou. Dizia assim: " Você pode até conseguir viver sem Deus, mas será muito tristee morrer sem Deus". Essas palavras servem muito para os descrentes. Que pensam não precisar de Deus pra nada. Uma pessoa assim acaba vivendo sem existir. É tempo de quaresma, lembremos que Jesus passou quarenta dias e noites, lutando contra o demônio. Passe esse momento meditando e aceite que sempre venceremos os demônio que tentarão destruir nossas vidas. Prepare seu coração e que seu esforço lhe traga o bem.
"Concordo plenamente com você, apenas me dê o direito de pensar diferente ok.." Um abraço..
ExcluirA bíblia ja diz o muito conhecimento corrompe o Homem,respeito seu modo de pensar apenas não concordo,sou muito critica isso tudo me fascina mas creio na existência de Deus so quem a conhece pode dizer isto
ResponderExcluirSeja feliz com ele..torço por vc...Quanto ao conhecimento, não precisa ser inteligente para entender o que é alienação e dominação das massas...
ExcluirQuem decidir se colocar como juiz da Verdade e do Conhecimento é naufragado pela gargalhada dos Deuses. _ Albert Einsten
ResponderExcluirO próprio Einstein também disse: "A tradição é a personalidade dos imbecis." Um abraço
ExcluirE também disse: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.” (Albert Einstein).
ExcluirE ser excêntrico refere-se a um comportamento não-usual ou estranho por parte de um indivíduo; tal comportamento pode ser notado por ser muito diferente ou simplesmente desnecessário. Sinônimo disso: incomum, esquisito, esdruxulo, rebuscado, fantasista, opiniático, estapafúrdio, partista, arbitrário, desnatural, e por aí vai.
Acho que seu conhecimento sobre Einstein limita-se às suas frases, o que a academia chama de contribuição desnecessária ao conhecimento cientifico. Discuto ciência, não frases. Acredito que quando falta argumentos plausíveis partimos para o senso comum, e isso eu garanto não ter a menor condição de competir com ninguém, pois consegui me livrar dessa horrenda ha alguns anos..Sugiro que produza um artigo expondo seus pontos de vista no que tange a esse assunto e prometo publicar..Esconder atrás de um teclado sob a égide do anonimato não é a maneira mais sensata de construir um dialogo inteligente.. Agradeço assim mesmo..
ExcluirA não exatidão do conhecimento científico não pode ser utilizada como ponto de partida para a almejada formação do aluno pesquisador.
ExcluirAinda de acordo com Thomas Kuhn, o conhecimento científico somente evolui quando rompe com as tradições dominantes e abre-se ao novo, sendo esta capacidade de regeneração a demarcação de um conhecimento realmente de natureza científica.
Ao contrário do que me disse, Einstein, muito me fascina. Considerado um dos maiores homens do século vinte, político, preocupado com a humanidade. A exemplo disso está o fato entre 1915 e 1930 a grande preocupação da Física estava no desenvolvimento de uma nova concepção do caráter fundamental da matéria, conhecida como Teoria Quântica. Esta teoria continha a característica da dualidade partícula-onda (a luz exibe propriedades de partícula, assim como de onda), assim como o Princípio da Incerteza, que estabelece que a precisão nos processos de medidas é limitada. Einstein, entretanto, não aceitaria tais noções e criticou seu desenvolvimento até o final da sua vida. Disse Einstein uma vez: "Deus não joga dados com o mundo".
Durante a I Guerra Mundial, com cidadania suíça, ele trabalhou na generalização de sua teoria para os sistemas acelerados. Elaborou então, uma nova teoria da gravitação em que a clássica teoria de Newton assume papel particular. Einstein, com o passar dos anos, continua a não aceitar completamente diversas teorias. Por exemplo, Einstein não aceitava o princípio de Heisenberg que o universo estivesse abandonado ao acaso.
"Deus pode ser perspicaz, mas não é malicioso.", disse ele sobre este princípio que destruía o determinismo que estava ancorado a ciência desde a Grécia Antiga. Mas afinal, Einstein acreditava em Deus? Não? E o que seria esse tal Deus de Espinosa, com o qual ele afirmou concordar?
Agora, concordando ou não com as definições acima de Deus, com a filosofia de Espinosa que Einstein acatou, fica claro o erro de decidir uma interpretação das palavras de uma pessoa que, convenhamos, não tinha lá uma mente muito simples e fácil de ser compreendida, se Einstein era crente, ateu, agnóstico ou espírita, nenhuma dessas opções, pois ele era, afinal das contas, Espinosano.
Quanto ao anonimato a explicação é simples, não tenho a pretensão do estrelismo, principalmente na web.
Abraços, igualmente intencionais.
AMEI..POSSO PUBLICAR??
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