terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

porque somos assim

Desde muito jovem uma coisa sempre me chamou atenção em nosso país;  de onde vem nosso jeitinho, nosso modo de falar, nossa malandragem? Depois de mais uma temporada de escândalos políticos Brasil afora, a discussão em torno da origem do caráter nacional está de volta.  Em função disso, e  como sociólogo, fui buscar nessa ciência as explicações para que possamos entender esse fenômeno.
Afinal, quem somos nós, os brasileiros? À primeira vista, a resposta para essa pergunta é fácil: somos o produto da miscigenação entre os colonizadores portugueses, os índios que aqui viviam e os africanos trazidos como mão-de-obra escrava, além dos imigrantes que chegaram entre os séculos 19 e 20 (alemães, italianos, japoneses).  Até aí, tudo bem. Somos, enfim, um povo mestiço genética e culturalmente que, apesar da diversidade, compartilha certos traços em comum.
A questão, porém, fica um pouco mais complicada quando se trata de buscar a essência do que se convencionou chamar de caráter nacional, aqueles traços que explicam uma série de comportamentos que costumamos encarar com naturalidade, mas que, quase sempre, causam surpresa entre os estrangeiros.
“Não é só um estereótipo. As pessoas aqui se relacionam com mais afetividade. Os brasileiros conversam na rua, enquanto na Europa o silêncio predomina nas estações de ônibus e metrô”, diz o jornalista espanhol Juan Arias, que há 7 anos vive no Rio como correspondente do jornal El País. “Mas fiquei chocado com a burocracia kafkiana para tirar o visto de permanência após casar com uma brasileira. Foram mais de 600 dias de espera, 6 quilos de documentos e a insinuação de que tudo poderia sair rapidamente se pagasse 8 mil reais”,  afirmou Árias ao deparar com a nossa já famosa “Burocracia”.
Brooke Unger, correspondente da revista inglesa The Economist, em São Paulo, é mais um que se diz a um só tempo encantado e estarrecido com certos traços do povo brasileiro. “Quando cheguei ao Brasil pela primeira vez, vi garis em um desfile pelas praias do Rio, numa cena impensável para um americano”. Em compensação, ele diz não entender a espécie de amnésia coletiva diante de casos graves de violência e impunidade. “A maioria dos brasileiros sabe mais sobre o atentado terrorista do dia 7 de julho, em Londres, do que sobre a chacina na Baixada Fluminense que matou 29 pessoas no dia 31 de março”. Afinal somos o quê? Criativos ou enrolões, extrovertidos ou indiscretos, cordiais ou malandros, maleáveis ou corruptíveis?
Em 2011 houve  uma enxurrada de denúncias de corrupção no governo Dilma – com direito a queda de 7 ministros e  outros ainda   estão a perigo – a discussão sobre do nosso caráter volta à berlinda. De onde vem nosso jeitinho, nossa informalidade (aqui, até um ex-presidente da República era tratado pelo apelido), nossa naturalidade diante da miséria, nossos preconceitos, nossa capacidade de depositar fé em mais de uma religião?
O que mais impressiona quem não e brasileiro são os porquês?  Por que aceitamos ônibus lotado  que mais parecem gaiolas de bois? Por que aceitamos a maior carga tributaria do Planeta, quase 40% do PIB? Por que aceitamos Jose Sarney na politica desde 1954 comandando o Maranhão e o Amapá como um Caudilho? Por que aceitamos hospitais abarrotados de miseráveis morrendo a míngua  em cenas que lembram os sanatórios religiosos  da Idade Media? Por que aceitamos, apesar de emergente, ter  a  terceira pior educação do mundo,  em que  o governo finge que paga, o professor,  finge que ensina, o aluno finge que aprende e a sociedade finge que esta tudo bem? Por que a nossa policia mata mais inocentes que países em Guerra?  Por que somos omissos ao descaso com nossos idosos, prostituição infantil, violência contra a mulher e a criança ? Por que aceitamos um governo que comandou uma desfalque de quase 400 milhões dos cofres públicos (mensalão)?  Porque..porque??
Aqueles que gostam de entender o Brasil, se lembrarão que no século XX, livros como Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda e Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Júnior, tentaram responder a algumas dessas perguntas. Mas as interpretações clássicas sobre o que é o brasileiro seguem válidas hoje? “A base dessas interpretações ainda é essencial, mas é preciso lembrar que o chamado caráter de um povo é algo que muda a cada instante”, diz a antropóloga Lilia Schwarcz, da USP.
Se o Brasil e, por extensão, o brasileiro “não é para principiantes”, como disse Tom Jobim,  com ajuda de alguns dos principais especialistas em nossas origens, temos hoje um guia para entendermos mais por que somos assim , ou seja, a  genética do jeitinho  brasileiro cuja a melhor definição que ouvi é  que a corrupção esta em nosso DNA.

4 comentários:

  1. Caramba Teatcher...Sera que somos isso mesmo?

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    1. você nunca fez uso do ''jeitinho brasileiro''? Nunca cometeu nenhum ato para se dar bem de alguma forma?
      Depois que responder a essas perguntas vai saber se somos isso mesmo!

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  2. Professor, acredito que o conformismo do brasileiro com todo cenário político, sócio-educacional, hospitalar, ja citado no seu artigo e para tudo o que consideramos denegridor, incabível, asqueroso a que somos submetidos na nossa realidade, nasce uma centelha nietzscheana, o brasileiro cria o amor-fati aprende a amar o destino, encontrar beleza no necessário, o jeito brasileiro de sorrir mesmo ante as dificuldades, uma passividade de lutar com pouco recurso. Portanto, nada poderia ter acontecido de outra forma, nada poderia ter sido diferente, não adianta lamentar-se.

    Mas ao que tudo parece lógico, a que se insere talvez um 'bug' no amor-fati de nietzsche, O amor-fati não implica em resignação, sua lição não é de aceitação passiva , muito menos acovardar-se. Não devemos abaixar a cabeça e aceitar, nem virar a outra face. O amor-fati diz para o indivíduo amar a vida, porque só ela existe e fora do todo não há nada. E negar os negadores é uma forma de afirmar! Por isso a luta também faz parte deste amor; não se pode apenas entender que exitem paradoxos e contradições, é necessário amá-los. Devemos amar a luta, a revolta, a insubmissão. E que dizer, "Não", seja apenas um passo para se dizer, "Sim", cada vez mais alto! Porque temos cada vez mais vontade de dizer Sim! Vontade de estar no mundo! Vontade de amar! Amor-fati…

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    1. Acredito que Nietz definiria esse comportamento como o ápice do niilismo..O fato de negarmos a capacidade que temos de transformação é a síntese do pensamento nitiano..

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